terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

MAGIA - CANTIGAS E SONORIDADES DOS CABOCLOS DA UMBANDA

MAGIA - CANTIGAS E SONORIDADES DOS CABOCLOS DA UMBANDA

PERGUNTA: - É possível falar-nos sobre a magia das cantigas e sonoridades dos caboclos da umbanda, descendente do magismo tribal mais antigo do planeta?
RAMATÍS: - Os homens afoitos e zelosos das purezas doutrinárias criticam os caboclos da umbanda quando assoviam, cantam, assopram e chilreiam como pássaros, baforando o charuto. A estreiteza de opinião oriunda do desconhecimento, aliado ao preconceito, favorece as "superioridades" doutrinárias e as interpretações sectárias.
Os fundamentos dos mantras e seus efeitos curativos (vocalização de palavras mágicas) fazem parte dos ritmos cósmicos desde os primórdios de vossa civilização.
Os vocábulos pronunciados, acompanhados do sopro e das baforadas, movimentam partículas e moléculas do éter circundante do consulente, impactam os corpos astral e etérico, expandindo a aura e realizando a desagregação de fluidos densos', miasmas, placas, vibriões e outras negatividades. Assim como as muralhas de Jericó tombaram ao som das trombetas de Josué, os cânticos, tambores e chocalhos dos caboclos desintegram poderosos campos de força magnetizados no Astral, bem como o som do diapasão faz evaporar a água.
Os infra e ultra-sons do Logos, o Verbo sagrado, deram origem ao Universo e compõem a tríade divina: som, luz e movimento. Como o macrocosmo está no microcosmo, e vice-versa, se pronunciardes determinadas palavras contra um objeto ou ponto focal no Espaço, mentalizando a ação que esse som simboliza, será potencializada a intenção pelo mediunismo do caboclo manifestado no médium, e energias correspondentes serão movimentadas. Ao mesmo tempo, cada chacra é uma antena viva dessas vibrações que repercutirão nas glândulas e nos órgãos fisiológicos, alterando os núcleos mórbidos que causam as doenças, advindo as "notáveis" curas praticadas na umbanda.
É comum religiosos e exímios expositores de outras doutrinas acorrerem a ela, sorrateiramente, às escondidas, com os filhos ou eles mesmos adoentados, ditos incuráveis pela medicina materialista, tendo sua saúde reinstalada, para depois nunca mais adentrarem um terreiro. A todos o manto da caridade dá alento, sem distinguir a fé fragmentada de cada um.
RAMATÍS - A MISSÃO DA UMBANDA
MÉDIUM: NORBERTO PEIXOTO

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Lenda da Amorosa

Lenda da Amorosa

Lenda da Amorosa trata-se de uma lenda do folclore Fluminense, difundida na região da Bacia Hidrográfica do Rio Macabu, em especial no município de Conceição de Macabu, interior do estado do Rio de Janeiro.

Ipojucam e Jandira eram índios sacurus que viviam em diferentes tribos. Ele, caçador afamado, vivia com sua comunidade na parte alta, onde os rios Carukango e Vermelho se unem. Jandira, conhecida pelas redes e cestas de palha que fazia usando a folha seca da macaúba, vivia com sua comunidade na parte baixa, onde existe até hoje um grande bambuzal. Desde jovens se conheciam, brincando entre as pedras do rio, banhando-se na cachoeira. Ela fazia para ele belos cestos de caça, ele trazia para ela os mais diferentes animais. Um dia, Ipojucam caçava para Jandira quando encontrou um estranho rastro, uma pegada humana, que ele seguiu até um imenso tronco oco. Lá dentro dormia um estranho ser, que parecia um pequeno índio, mas era muito cabeludo e tinha os pés voltados para trás. Ipojucam, curioso, acordou a criatura, que assustada montou num caititu que passava nas redondezas e sumiu mata adentro. Ipojucam seguiu a criatura até deparar-se com ela às margens de um regato.
-Quem é você ? Perguntou Ipojucam.
-Sou o Curupira, defensor da mata e dos animais. Por que você não me matou enquanto eu dormia ?
-Por que não costumo matar seres indefesos, só enfrento quem pode me enfrentar.
- Você é esperto, garoto, não gosto de caçadores, mas você não caça, você enfrenta os animais dando-lhes oportunidade. Fique com Tupã.
E o Curupira sumiu pela floresta montado em seu caititu. Os anos se passaram, Jandira e Ipojucam cresceram belos e fortes. Como era de se esperar, enamoraram-se, tornaram-se noivos, até que os pajés das duas tribos marcaram o casamento para a primeira noite de lua cheia de novembro. Na véspera do casamento, pela manhã, Ipojucam ofereceu uma bela caça a Tupã, como se pedisse as bênçãos pelas núpcias. Anhangá, o maligno deus da morte dos sacurus, que invejava a destreza e a inteligência de Ipojucam, desde que ouvira falar do jovem através do Curupira, surgiu para ele na forma de uma onça branca e o desafiou para uma luta de caça.
Com destreza, Ipojucam derrotou a onça, ferindo-a de morte no peito. Irritado, Anhangá ressuscitou o animal, levando Ipojucam a persegui-lo até a cachoeira onde Jandira colhia palha para fazer sua rede nupcial. Quando Anhangá, na forma da onça branca, avistou Jandira, resolveu atacá-la para vingar-se de Ipojucam. Quando percebeu o ataque, Jandira gritou por Ipojucam, que vinha em perseguição à onça, este imediatamente investiu sua lança contra o animal, trespassando-o mortalmente. Imediatamente, Anhangá, humilhado pela derrota que seu animal sofrera, transformou-se numa tromba d’água arrastando Jandira e Ipojucam para as profundezas da cachoeira, que passou a se chamar "Amorosa".

Caboclo-d'água

Caboclo-d'água

Caboclo-d'Água é um ser mítico, defensor do Rio São Francisco, que assombra os pescadores e navegantes, chegando mesmo a virar e afundar embarcações.[1] Para esconjurá-lo, os marujos do São Francisco fazem esculpir, à proa de seus barcos, figuras assustadoras chamadas carrancas. Outros lançam fumo nas águas para acalmá-lo. Também são cravadas facas no fundo de canoas, por haver a crença de que o aço afugenta manifestações de seres sobrenaturais.
Os nativos o descrevem como sendo um ser troncudo e musculoso, de pele cor de bronze. Apesar de seu tipo físico, o Caboclo-d'Água consegue se locomover rapidamente. Pode viver fora da água, mas nunca se afasta das margens do rio São Francisco. Quando não gosta de um pescador, ele afugenta os peixes para longe da rede, mas, se o pescador lhe faz um agrado, ele o ajuda para que a pesca seja farta.
Há relatos de que ele também pode aparecer sob a forma de outros animais. Um pescador conta ter visto um animal morto boiando no rio; ao se aproximar com a canoa, notou que se tratava de um cavalo, mas, ao tentar se aproximar, para ver a marca e comunicar o fato ao dono, o animal rapidamente afundou. Em seguida, o barco começou a se mexer, ao virar-se para o lado, notou o Caboclo-d'Água agarrado à beirada, tentando virar o barco. Então o pescador, lembrando-se de que trazia fumo em sua sacola, atirou-o às águas, e o Caboclo-d'Água saiu dando cambalhotas, mergulhando rio-abaixo.

Caipora

Caipora

Caipora é uma entidade da mitologia tupi-guarani. A palavra “caipora” vem do tupi caapora e quer dizer "habitante do mato".[1] No folclore brasileiro, é representado como um pequeno índio de pele escura, ágil e nu.
Habitante das florestas, reina sobre todos os animais e ele destrói os caçadores que não cumprem o acordo de caça feito com ele. Seu corpo é todo coberto por pelos. Ele vive montado numa espécie de peccarideo (queixada ou cateto) e ele carrega uma vara. Primo do Curupira, protege os animais da floresta. Os índios acreditavam que o Caipora temesse a claridade, por isso protegiam-se dele andando com tições acesos durante a noite. O Caipora é considerado em algumas partes do Brasil como canibal, ou seja dizem que come quem ele vê caçando, até mesmo um pequenino inseto. [carece de fontes]
No imaginário popular em diferentes regiões do País, a figura do Caipora está intimamente associada à vida da floresta. Ele é o guardião da vida animal. Apronta toda sorte de ciladas para o caçador, sobretudo aquele que abate animais além de suas necessidades. Afugenta as presas, espanca os cães farejadores, e desorienta o caçador simulando os ruídos dos animais da mata. Assobia, estala os galhos e assim dá falsas pistas fazendo com que ele se perca no meio do mato. Mas, de acordo com a crença popular, é sobretudo nas sextas-feiras, nos domingos e dias santos, quando não se deve sair para a caça, que a sua atividade se intensifica. Mas há um meio de driblá-lo. O Caipora aprecia o fumo. Assim, reza o costume que, antes de sair numa noite de quinta-feira para caçar no mato, deve-se deixar fumo de corda no tronco de uma árvore e dizer: "Toma, Caipora, deixa eu ir embora". A boa sorte de um caçador é atribuída também aos presentes que ele oferece. Assim, por sua vez, os homens encontram um meio de conseguir seduzir esse ente fantástico. Mas fracasso na empreitada é atribuído aos ardis da entidade. No sertão do Nordeste, também é comum dizer que alguém está com o Caipora quando atravessa uma fase de empreendimentos mal sucedidos, e de infelicidade.
Há muitas maneiras de descrever a figura que amedronta os homens e que, parece, coloca freios em seus apetites descontrolados pelos animais. Pode ser um pequeno caboclo, com um olho no meio da testa, coxo e que atravessa a mata montado num porco selvagem; um índio de baixa estatura, ágil; um homem peludo, com vasta cabeleira.
Segundo o folclorista Luís da Câmara Cascudo, "ser caipora é o mesmo que ter azar, ter sorte madrasta, ser perseguido pelo destino (...). Nas lendas tupis, o caapora é representado ora como uma figura de um pé só, à maneira do saci, ora com os pés virados para trás, simbolizando por isso, como diz João Ribeiro, 'a pessoa que chega tarde e nada alcança'"

Jurupari (mitologia)

Jurupari (mitologia)


Jurupari é um personagem mitológico dos povos indígenas da América do Sul. O povo Mawé retrata Yurupari não apenas como um demônio, mas o próprio Mal, aquele que deu origem à outros demônios (como os Ahiag̃ ou os Mapinguary).[1]
Na época da chegada dos primeiros europeus ao continente (século 16), Jurupari era o culto mais difundido. Visando a combatê-lo, os missionários católicos passaram a associar Jurupari ao diabo cristãoVárias teorias procuram explicar o significado do termo "Jurupari":
  • Segundo o tupinólogo Eduardo Navarro, viria do tupi antigo Îurupari, que significa "boca torta" (îuru, "boca" + apar, "torta").[4]
  • Segundo o folclorista Luís da Câmara Cascudo, a palavra "jurupari" parece corruptela de "jurupoari", descrita por Couto de Magalhães no curso sobre nheengatu (língua geral) "O selvagem". Na obra, "Jurupari" literalmente é traduzido por "boca, mão sobre; tirar da boca"; che jurupoari - "tirou-me a palavra da boca", ou de iuru (boca) e pari (armadilha de talas para peixes, com que se fecha os igarapés), além de referir aos diversos significados míticos, entre os quais o que corresponde à expressão "ser que vem à nossa rede" (lugar onde dormimos), e "gerado da fruta".[5]
  • Segundo o padre Constant Tastevin (1880-1958), apud Faulhaber,[6] o nome "Jurupari" pode corresponder ao nome próprio de um antigo legislador índio, de quem conservam ainda os usos, leis e tradições lembradas nas danças mascaradas de Jurupari. O nome, segundo esse autor, parece significar "máscara", pari, "da boca" ou "do rosto": iu-ru-pari: "meter um pari no próprio rosto".
dicionário Aurélio[7] reforça a etimologia tupi e o significado de "demônio", estendendo o seu significado a:
  • um peixe de rio, ciclídeo (jeropari, Geophagus daemon);
  • ao macaco-de-cheiro;
  • e à planta da família das leguminosas (Eperua grandiflora), que podem ou não ter relações com esse signo mítico, o que é evidente no nome do peixe (Geophagus daemon ou Satanoperca jurupari).
Jurupari também é o nome do peixe da família cichlidae

O Legislador[editar | editar código-fonte]

A primeira versão conta a história de uma índia chamada Ceuci que, tal qual a Virgem Maria, teve uma concepção miraculosa. Conta a lenda que Ceuci estava repousando abaixo de uma árvore e, acometida de fome, comeu seu fruto, o mapati (uacu, em algumas variantes), cuja ingestão era proibida às moças no dia em que estivessem em período fértil. O sumo da fruta teria então escorrido pelo seu corpo nu e alcançado o meio de suas coxas, fecundando-a. A notícia chegou à aldeia, e o conselho de anciãos, diante da revolta do povo, resolveu punir Ceuci com o exílio, onde teve seu filho.
Esta criança, chamada Jurupari, era na verdade o enviado do Sol (Guaraci), pelo qual foi ordenado reformar os costumes dos homens e encontrar uma esposa para ele. Com sete dias de vida, já aparentava ter 10 anos, e sua sabedoria atraiu a atenção de todos, que passaram a ouvir suas palavras e o ensinamento dos novos costumes que o Sol dizia que deveriam seguir. É chamado legislador porque alterou as leis (leia-se costumes) do mundo, transformando-o de matriarcal para patriarcal.

Demônio dos Sonhos[editar | editar código-fonte]

Na mais conhecida das duas lendas, Jurupari seria, na verdade, o deus da escuridão e do mal, que visitaria os índios em sonhos, assustando-os com pesadelos e presságios de perigos horríveis, impedindo, entretanto, que suas vítimas gritassem - o que, por vezes, causava asfixia. Esta é a mais "provável", já que o significado da palavra Jurupari seja algo como "aquele que cala", "que tapa a boca", ou ainda "aquele que visita nossa rede". Os jesuítas estimularam esta versão da lenda, alguns mesmo dizendo que foram eles que a criaram, sendo imediatamente aceita pelos indígenas, ávidos por uma explicação sobre o porquê de terem pesadelos. Para Câmara Cascudo, essa concepção de criatura dos "pesadelos" é um amálgama de lendas europeias e africanas, inventadas pelas amas de leite para o controle do comportamento das crianças.

Aparência[editar | editar código-fonte]

Por vezes, é visto como um caboclo medonho que está sempre rindo, aleijão de boca torta, sendo muito cruel e vingativo. Em algumas culturas indígenas, é descrito como uma cobra com braços; em outras, como um índio comum dotado de grande sabedoria e poderes divinos. Já foi descrito como um bebê invisível, ou simplesmente como uma "presença" (espírito).
Em alguns dos mitos que envolvem o jurupari, esse herói morre queimado, e, das suas cinzas, nasce a palmeira de paxiúba (Socratea exorrhiza), uma árvore de cuja madeira são feitos os instrumentos juruparis tocados nesse ritual. Entre os índios tucanos, a flauta (simiômi’i-põrero) é feita da madeira do uacu (Monopteryx angustifolia). Segundo Piedade,[8] é um instrumento sagrado que tem som de trovão, tendo sido utilizado pelos homens para recuperar os instrumentos juruparis que as mulheres haviam roubado.

Ritual do Jurupari[editar | editar código-fonte]

Além de o nome Jurupari corresponder a uma lenda tupi e a um conjunto de animais e árvores que o mito relaciona entre si, ainda existem diversas variantes desse mito em outras etnias. Corresponde também a um ritual com flautas em que só os homens podem participar, entre os índios do noroeste da Amazônia (Rios Negro e Uaupés), como os tucanos e os tarianas, descrito por Ermanno Stradelli (1852-1926).[9] Outros ritos e mitos também são conhecidos pelo nome de Jurupari, a exemplo dos encontrados nas tribos:
Segundo descrição de Carvalho[11] do que denomina a "religião de jurupari", na região amazônica alto do Rio Negro, esta compreende um culto secreto masculino, revelado aos iniciados principalmente na segunda iniciação: seus ritos incluem flagelações, uso do tabaco e cocailusógenos como o yagé (caapi), e, mais no extremo oeste, também o paricá.

Boitatá

Boitatá


Boitatá capturando o caçador
Boitatá é um termo tupi-guarani, usado para designar, em todo o Brasil, o fenômeno do fogo-fátuo, e deste derivando algumas entidades míticas,[1] das primeiras registradas no país

Etimologia e variantes nominais[editar | editar código-fonte]

O termo mais difundido é boitatá. O termo é a junção das palavras tupis boi e tatá, significando cobra e fogo, respectivamente, ou ainda de mboi — a coisa ou o agente. Significa, assim, cobra de fogofogo da cobraem forma de cobra ou coisa de fogo.[2]
Sobre a etimologia, escreveu Couto de Magalhães que "como a palavra o diz, boitatá é cobra-de-fogo'" (in: O Selvagem, Rio de Janeiro, 1876[2]).
No Sul, é chamado de baitatá ou batatá e até mesmo de boitatá. Na Bahia, aparece como biatatá. Em Minas Gerais chamam-no de bata. No Nordeste, é comum o termo batatão. Nos estados de Sergipe e Alagoas, recebem os nomes de Jean de la foice ou Jean Delafosse.[2]

Primeiros registros[editar | editar código-fonte]

Em 1560 registrou o Padre José de Anchieta:
"Há também outros (fantasmas), máxime nas praias, que vivem a maior parte do tempo junto do mar e dos rios, e são chamados baetatá, que quer dizer cousa de fogo, o que é o mesmo como se se dissesse o que é todo de fogo. Não se vê outra cousa senão um facho cintilante correndo para ali; acomete rapidamente os índios e mata-os, como os curupiras; o que seja isto, ainda não se sabe com certeza." (in: Cartas, Informações, Framentos Históricos, etc. do Padre José de Anchieta, Rio de Janeiro, 1933[2])
No folclore brasileiro, o Boitatá é uma gigantesca cobra-de-fogo que protege os campos contra aqueles que o incendeiam. Vive nas águas e pode se transformar também numa tora em brasa, queimando aqueles que põem fogo nas matas e florestas.
A origem deste mito está ligada a um fenômeno chamado fogo-fátuo. A decomposição de matéria orgânica, seja de vegetação ou animais mortos, libera gases que inflamam-se espontaneamente em contato com ar. Correntes de ar causadas pela passagem de uma pessoa nas proximidades podem deslocar as chamas fazendo com que pareçam uma cobra de fogo que a persegue.
Na obra Lendas do Sul, de João Simões Lopes Neto, há um conto com esse nome que descreve bem a lenda. A ideia era de uma luz que se movimentava no espaço, daí "veio a imagem da marcha ondulada da serpente". Foi essa imagem que se consagrou na imaginação popular. Descreve-se o Boitatá como uma serpente com olhos como dois faróis, couro transparente, que cintila nas noites em que aparece deslizando nas campinas, nas beiras dos rios. Em Santa Catarina, a figura aparece como um touro de "pata como a dos gigantes e com um enorme olho bem no meio da testa, a brilhar que nem um tição de fogo".
No Rio Grande do Sul, narra-se a lenda de que houve um período de noite sem fim nas matas. Além da escuridão, houve uma enorme enchente causada por chuvas torrenciais. Assustados, os animais correram para um ponto mais elevado a fim de se protegerem. A boiguaçu, uma cobra que vivia numa gruta escura, acordou com a inundação e, faminta, decidiu sair em busca de alimento, com a vantagem de ser o único bicho acostumado a enxergar na escuridão. Decidiu comer a parte que mais lhe apetecia: os olhos dos animais. De tanto comê-los, foi ficando toda luminosa, cheia de luz de todos esses olhos. Seu corpo transformou-se em ajuntadas pupilas rutilantes, bola de chamas, clarão vivo, boitatá, cobra de fogo. Ao mesmo tempo a alimentação farta deixou a boiguaçu muito fraca. Ela morreu e reapareceu nas matas serpenteando luminosa. Quem encontra esse ser fantástico nas campinas pode ficar cego, morrer e até enlouquecer. Assim, para evitar o desastre, os homens acreditam que têm que ficar parados, sem respirar, e de olhos bem fechados. A tentativa de escapar da cobra apresenta riscos porque o ente pode imaginar fuga de alguém que ateou fogo nas matas. No Rio Grande do Sul, acredita-se que o "boitatá" é o protetor das matas e das campinas. A verdade é que a ideia de uma cobra luminosa, protetora de campinas e dos campos aparece freqüentemente na literatura, sobretudo nas narrativas do Rio Grande do Sul.
Ainda hoje, essa lenda folclórica impressiona adultos e crianças, sendo citada, inclusive, como personagem de destaque em várias obras contemporâneas como, por exemplo, “Quem tem medo do Boitatá?”[3], de Manuel Filho, lançada em 2007. Nesta história infanto-juvenil, o avô do protagonista, Sandrinho, é cego pelo próprio Boitatá. A serpente também é relembrada na história de José Santos, “O casamento do Boitatá com a Mula-sem-cabeça”,[4] onde o autor descreve de forma lúdica a união de vários seres de nosso folclore. O mito, em sua versão sincrética, aparece ainda no livro "A lenda do Batatão"[5], de Marco Haurélio, escrito em sextilhas de cordel. O Batatão, embora conserve sua característica ígnea, se aproxima das almas penadas. Nas referidas obras, assim como em muitas outras, o ser fantástico é citado como “o Boitatá”, mas é possível encontrar citações como “a Boitatá” tal como ocorre na obra recente de Alexandra Pericão, "Uaná, um curumim entre muitas lendas",[6] em que a serpente, também comedora de olhos, é descrita de um jeito bem contemporâneo, com citações divertidas, como “Mas ninguém, até hoje, e isso é o mais espantoso de tudo, conseguiu colocar uma foto sua na internet. Apesar do tamanho gigante, a serpente é tão discreta, que só conseguem vê-la aqueles que ela mesmo captura”. Também João Simões Lopes Neto, em obra supramencionada, refere-se ao ser no feminino, valendo citar o trecho: “Foi assim e foi por isso que os homens, quando pela primeira vez viram a boiguaçu tão demudada, não a conheceram mais. Não conheceram e julgando que era outra, muito outra, chamam-na desde então, de boitatá, cobra do fogo, boitatá, a boitatá!”.

Referências

  1.  FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Dicionário Aurélio
  2. ↑ Ir para:a b c d e CASCUDO, CâmaraDicionário do Folclore Brasileiro
  3.  Filho, Manuel. Quem tem medo do Boitatá?. Editora Escala, 2007, 1ª ed.
  4.  Santos, José. O casamento do Boitatá com a Mula-sem-cabeça. Companhia Editora Nacional, 2007, 1ª ed.
  5.  Haurélio, Marco. A lenda do Batatão. SESI-SP Editora, 2012, 1ª ed.
  6.  Pericão, Alexandra. Uaná, um curumim entre muitas lendas. Editora do Brasil, 2011, 1ª ed.

Festa de Iaci ou 'Festa da Lua'

Festa de Iaci ou 'Festa da Lua'

A Lenda Sagrada de Izi diz que era punido com morte toda mulher que tocasse num armamento de guerra ou caça, ou instrumentos utilizados em festas secretas. Essa opressão gera um misto de curiosidade e indignação pelo sexo feminino. Creditando às índias uma audácia crescente do proibido algumas se rebelam, tomam o arco e a flecha para si, com as lanças matam seus filhos varões, com facas cortam seus cabelos e lançam os fios ao chão, e partem enfim abandonando seus afazeres domésticos. Depois de muito andar, atravessar precipícios, vencer rios e cortar a floresta densa encontram um recanto do éden onde múltiplas orquídeas desabrocham celebrando sua chegada. Ali creem ter sido a morada de Iaci, Mãe dos Lagos e Enfermeira dos Corações Doentes. Nomeiam o local de Iaci-Taperê(Serra da Lua) e lá construiram seu reino, autointitulando-se Icamiabas. Abaixo da Serra há um lago que batizam Iaci-Uaru (Espelho da Lua).

O Encontro[editar | editar código-fonte]

Ao Retornar da caça, os índios caçadores encontram suas casas como descrito acima e assim sentem grande pesar, surpresa e arrependimento. Partem então desesperados a procura das fugitivas de sua tribo. Igualmente às mulheres, passam por grandes desafios, barreiras, encostas, rios e perigos até chegarem a Iaci-Taperê. São recebidos com grande hostilidade e violência pelas mulheres que os expulsam. Sem ter para onde ir permanecem às margens do Iaci-Uaru, até que a grande Iaci surge com toda sua glória no céu. É quando as mulheres decidem dar uma chance aos homens, desde que passem pela Jornada Expiatória.

Jornada Expiatória[editar | editar código-fonte]

Antes das tais festas do Amor, havia a jornada expiatória ao lago do Espelho da Lua, tão belo quanto misterioso e oculto da profanação dos homens. Reunidas em torno do Lago Sagrado, as Icamiabas, nas noites certas de fases lunares, provavelmente na Lua Cheia ou Quarto Crescente celebravam a festa do Iaci, a Lua, a mão querida e temerosa das filhas selvagens e à "Mãe do Muiraquitã", que habitava o fundo da referida lagoa. Subiam então, aos céus, no meio da imensidade do sertão amazônico, através dos cantos, que nenhum homem pode ouvir, nem jamais ouvirá.
O óleo balsâmico do umiri e fina essência do molongó alcançavam os ares como uma oblação aromal à deusa das noites serenas, que tece cuidadosamente com seus raios de prata os filtros misteriosos os invisíveis amores e as germinações.
Maceradas de longas vigílias e de flagelações, as filhas de Iaci, caíam em êxtase antes de obter a purificação suprema das águas cristalinas do Espelho da Lua, em cujo fundo se visualizava as pedras verdes.

Muiraquitã[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Muiraquitã
Quando, as horas mortas, a face da lua refletia bem clara na superfície polida do seu líquido Espelho, então as amazonas mergulhavam nas águas e recebiam das mãos da Mãe dos Muiraquitãs as pedras verdes, como penhor da sua consagração, o presente dessas jóias sagradas. Antes de expostas ao ar e à luz do sol, dos quais recebiam a sua dureza e consistência, eram os muiraquitãs como barro e assim tomavam do capricho das amazonas que afeiçoavam à sua guisa, as mais bizarras formas: qual de uma flor, uma rã ou ainda a cabeça de uma fera.[2]

Fim da Festa[editar | editar código-fonte]

Ao fim das festa as Icamiabas junto de seus pretendentes dirigiam-se às suas tendas para aliviar o fogo que os queimavam por um ano, no dia seguinte os índios eram novamente expulsos. Aquelas que geravam índias mantinham suas crias até se tornarem novas Icamiabas, porém as que pariam varões entregavam-os aos cuidados dos homens para que se tornasse um caçador guerreiro porém longe dos braços de Iaci.

Nhanderuvuçú (também grafado Nhamandú, Yamandú ou Nhandejara) considerado o deus supremo na mitologia tupi-guarani.

Nhanderuvuçú (também grafado Nhamandú, Yamandú ou Nhandejara) considerado o deus supremo na mitologia tupi-guarani.

Na mitologia grega é equivalente à Caos, ou ao Deus abraâmico YHWH. Nhanderuvuçú não tem a chamada forma antropomórfica, é a energia que existe, sempre existiu e existirá para sempre, portanto Nhanderuvuçú existe mesmo antes de existir o Universo.[1]
No princípio ele destruiu tudo que existia e depois criou a alma, que na língua tupi-guarani diz-se "Anhang" ou "añã" a alma; "gwea" significa velho(a); portanto anhangüera "añã'gwea" significa alma antiga.[2] Nhanderuvuçú criou as duas almas e, das duas almas (+) e (-) surgiu "anhandeci" a matéria.
Depois ele disse para haver lagos, neblina, cerração e rios. Para proteger tudo isso, ele criou Iara. Depois de Iara, Nhanderuvuçú criou Tupã que é quem controla o clima, o tempo e o vento, Tupã manifesta-se com os raios, trovões, relâmpagos, ventos e tempestades, é Tupã quem empurra as nuvens pelo céu.
Nhanderuvuçú criou também Caaporã o protetor das matas e de todos os seres vivos.

Referências

  1.  CLAUDIO ALMIR DALBOSCO, ELDON HENRIQUE MUHL, EDISON A. CASAGRANDA (2008). Filosofia E Pedagogia, Aspectos Históricos e Temáticos. [S.l.]: Autores Associados. 297 páginas. 978-85-7496-212-2
  2.  OLIVEIRA, Josaphat Pinto (2003). Evangelho e diálogo inter-religioso. [S.l.]: Loyola. 136 páginas. 85-15-12715-1