domingo, 27 de junho de 2021

DEUSA CEUCI E JURUPARI

 DEUSA CEUCI E JURUPARI


Pode ser um desenho animado de uma ou mais pessoas e comidaCeuci é a "Virgem Maria" da teogonia Tupi, pois também ela teve um filho de uma concepção miraculosa.
Segundo a lenda, Ceuci descansava à sombra da árvore do bem e do mal, quando avistou seus frutos grandes e maduros. Não resistindo, apanhou e comeu uma de suas frutas e o seu caldo escorrendo pelo seu corpo nu alcançou o meio de suas coxas.
Meses após, revelou-se uma gravidez que encheu de indignação toda a comunidade indígena, O Conselho de Velhos, achou por bem, puni-la com o desterro.

Ceuci teve seu filho muito longe da aldeia de deu-lhe o nome de Jurupari, futuro legislador, que veio mandado pelo sol para reformar os costumes da terra e também encontrar nela uma mulher perfeita com quem o sol pudesse casar.
Quando nasceu Jurupari, nasceu também o silêncio, o quiriri sombrio e religioso das florestas e dos lagos amazônicos.
Já ao sair do ventre de sua mãe, falou-lhe:
-"Não tenha receio mãe: eu venho de Tupã, que é meu pai, com a missão de reformar os costumes de teus irmãos. Venho trazer a lei do patriarcado e o instituto do segredo, que ainda não existe nas tabas: foi adequado, por isso mesmo, o nome que me deste, Jurupari. Boca fechada, sigilo!".

Ao sete dias de nascido, Jurupari era um rapaz que aparentava dez anos e foi rapidamente correndo a fama de sua sabedoria. Em seguida, o lugar em que morava com Ceuci, foi povoada pelos romeiros que ali iam aprender não só a lei de Jurupari como as regras preliminares da agricultura.
À medida que o menino cresceu foi fatalmente, afastando-se da mãe e muito jovem já era considerado o "Moisés" dos tupis.

Para que os homens aprendessem a viver independentes das mulheres, Jurupari instituiu grandes festas que só eles podiam tomar parte.
Ceuci inconformada com tais leis e saudosa do filho, resolveu, certa noite, dar uma espiadinha no cerimonial dos homens. Furtivamente, então, transpôs o patamar da entrada da "Casa dos Homens". Essa infração era punida com pena de morte, mas antes do término do cerimonial, Ceuci foi fulminada por um raio. Jurupari foi imediatamente chamado para ressuscitar a mãe, mas nada fez, pois não podia abrir precedentes em suas leis.

“Morreste mãe, porque desobedeceste à lei de Tupã. É a lei que eu vivo a ensinar. Não vou te ressuscitar, mas te recomendo: sobe, bela, radiante e pura para um mundo melhor. Cumpriste a verdadeira missão de mãe, que sempre é cheia de amor, renúncia, desenganos e sofrimento. Meu pai vai recebê-la de braços abertos lá no céu”.

O corpo da Deusa reanimado e iluminando-se de uma fulguração estranha subiu ao céu, sentado na volta de sete cores de luaca-mirapara (arco-íris), dando beijos de luz e vida aos que ficaram em baixo, na alegria ingênua das tabas.

Ceuci transformou-se na estrela mais resplandecente da constelação das Plêiades ( constelação que indica a época certa da colheita das frutas maduras, da caça e da pesca) e hoje domina, no caá.

Ali está, para lembrar aos selvagens o respeito às leis de Jurupari, o Filho do Sol.

Na Amazônia existe também, o Ceuci-cipó. Desse cipó os tupinambás fabricavam o anamã, uma bebida que diziam ter o dom de purificar: bebiam-na antes de soprar as caçiúbas de Jurupari. Essa bebida era vomitório com que limpavam o estômago.
Quando Ceuci ascendia ao iuaca, o primitivo espírito, que sempre a seguia, não podendo acompanhá-la ao céu, transformou-se em uma coruja, cujo canto onomatopéico, diz claramente Ceuci, nome porque é conhecida na Amazônia.
Há também uma tartaruguinha de cauda comprida chamada Ceuci, a qual dizem ser hermafrodita.
Ceuci, mãe do "Moisés" dos tupis, dos caraíbas, guaranis e anamãs, é uma Deusa morta, pois nunca mais veio à Terra, mas goza de grande prestígio na mitologia da América do Sul.
É ela quem, no iuaca, distribui a sorte às tainatás, enlevo dos lares da floresta.

Os mitos da procriação, do nascimento e da vida de grandes figuras da história refletem o que há de extraordinário nestas crianças divinas e além disso, nos falam da correspondência destas conexões que se dão tanto com a ordem cósmica como com a alma humana.
As relações "homem-Deus" e "homem-mulher" são os temas do ser humano desde que ele existe , justamente por que nestas ligações entrelaçam-se decisões de vida ou morte. De todas as ligações a de mãe-filho é a mais estreita, é algo transcendente, que une duas pessoas em um segredo fascinante, que dá prazer e dor, mas que no fundo é sempre indecifrável. Assim, não é de se estranhar que no primórdios dos tempos se acreditasse que a maternidade não dependia do homem, mas sim da influência ou interferência dos astros, animais e até do sumo de alguns frutos, como é o caso de nossa lenda.
No início da humanidade, reinava o matriarcado e toda a linha de descendência era regida pelo sistema matrilinear. Entre os nossos indígenas, também foi assim. Toda a criança que nascia, pertencia ao grupo familiar da mulher. A posição do pai era de um simples amigo, portanto não tinha direitos sobre o filho. Toda a educação e tutela da criança ficava ao encargo do tio materno.

Tal estado das coisas acabou por gerar choques e tensões sociais e o homem sentindo-se mais forte, tratou de dominar a situação e inverter os papéis. Esta mudança em alguns casos foi extremamente dramática, pois em algumas tribos, o homem figurava como uma espécie de escravo da mulher, executando os serviços mais baixos e sem que os filhos o considerassem pais. O mito do Jurupari, juntamente com a existência das Icamiabas, nos deixa bem claro, que as mulheres foram destituídas de todo o poder, nada restando-lhes, nem mesmo era reconhecida a maternidade. Como o desmoronamento do direito materno, o homem apoderou-se também da direção da casa, a mulher viu-se então degradada, convertida em servidora, em escrava da luxúria do homem, ou simples instrumento de reprodução.
É óbvio que as mulheres não poderiam concordar com tal estado das coisas. E muitas são as lendas em que as mulheres matam os homens, seus maridos, os velhos e as crianças do sexo masculino, antes de abandonarem suas aldeias.

QUEM É JURUPARI?
Jurupari ou Izí é um Grande Espírito, que servia de guia e protegia os índios, particularmente aos homens. As leis do Jurupari, que significa "boca fechada" (iurú= boca e pari=tapume), impunham silêncio total sobre todos os segredos do oculto. O pai deveria matar o filho, se este descobrisse qualquer segredo das festas sagradas antes de iniciado, tão rígidas eram tais regras.
Nas cerimônias de iniciação, destaca-se os seguintes versos, ilustrando o conceito de "boca fechada":

"Sol, faz valentes seus corações!
Lua adoça suas falas!
Ceuci ensina-os a fugir
De um dia tudo contar!"

A cantiga pede pois, que mantenham suas bocas fechadas, de acordo com as leis e não esquece de invocar a proteção das Sete Estrelas ou Ceuci, a mãe do Jurupari, que correspondem ao aglomerado estelar aberto das Plêiades, na constelação do Touro, próximo às "Três Marias", o cinturão da constelação do Órion. Este grupo é visível alto no céu pela madrugada no inverno e primavera e verão no meio da noite. É também pedido a proteção da Lua para "adoçar suas falas", isto é, impedi-los de contar os segredos às mulheres.

O Jurupari foi portanto, o responsável pela instituição da "Casa dos Homens" e também pelo invento dos instrumentos sagrados, máscaras e das festividades exclusivamente masculinas, o que servia para manter o caráter de dominação patriarcal no seio das tribos.

Rosane Volpatto

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Cabocla Janaína

 Cabocla Janaína


Pode ser uma ilustração de 1 pessoa e ao ar livreJanaina significa "Rainha do Lar". Ela nasceu na Tribo dos Goitacás, no litoral sul do estado do Espírito Santo. Eles eram índios pacíficos e felizes porque evitavam a guerra. Seu pai era um grande guerreiro e sua mãe uma grande tecelã. Viviam da caça e da pesca. Sua pele era queimada do sol da praia, onde gostava de passar horas apreciando o mar. Sabia nadar como um peixe e compreendia a linguagem da Natureza.

Quando a expedição Cabralina passou por suas praias, ela foi uma das primeiras a avistar o navio e o homem branco. Apaixonou-se pelo que viu: eles pareciam deuses para ela... Janaína possuía olhos amendoados, longos cabelos negros e pele morena do sol. Seu corpo possuía boa forma e beleza. Por ser assim, chamou a atenção do homem branco, quando ele desembarcou próximo a sua aldeia. Ela correu avisar os chefes da Tribo e chamar os demais.
Acompanhou de longe todos os contatos, mas não entendia o que eles falavam. Pelos sinais percebeu que tentavam se aproximar e fazer amizade. Deram presentes, que para ela eram desconhecidos: garfos, colheres, espelhos, colares... Mas, que pareciam tesouros! O que mais lhe chamou a atenção foi o espelho! Já havia se mirado nas águas de um lago, mas olhar-se num espelho, era mágico!

Os portugueses lhe deram um vestido e um adorno de cabelo e lhe mostraram como usar tudo aquilo. Ela se vestiu e se enfeitou e percebeu os olhares sobre ela. Nunca mais foi a mesma. Sentiu-se encantada com esse novo mundo. Sabia que existia muito mais do que ela conhecia. Foram vários meses de visita. Ela não tinha medo do homem branco e até apaixonou-se por um deles; ele era um dos imediatos do navio. Mas, ela já estava prometida em casamento.

Após dois anos de visitas contínuas, ela entregou-se ao rapaz, em meio à natureza. Dois meses depois estava grávida e o navio já estava de partida. Sua tribo era severa com traições. Seria mantida presa na oca até o nascimento da criança, a qual seria dada aos animais. Depois a prenderiam em um mastro no meio da tribo, com privações diversas sob o sol e a lua, até que contasse quem era o pai da criança. Em seguida, seria expulsa ou morta com uma flechada no peito.
Por conta disso, desesperou-se ao perceber que ficaria sozinha. Não tinha planejado nada daquilo, apenas aconteceu... Então, ao ver o navio partindo, atirou-se às águas e nadou o mais que pôde para alcançá-lo. Queria pedir ao pai da criança que a levasse junto. Mas, suas forças enfraqueceram e afogou-se nas águas profundas... A Mãe d'Água compadecida, devolveu seu corpo à praia e quando a encontraram não entenderam o que aconteceu. A Tribo dizia que ela morreu por amor ao homem branco.

todasasdeusasdomundo

sexta-feira, 18 de junho de 2021

CABOCLO ROMPE MATO

 CABOCLO ROMPE MATO


Pode ser uma ilustraçãoAntes de qualquer coisa, gostaria de deixar esclarecido que o
Caboclo Rompe Mato não é o mesmo que Ogum Rompe Mato, apesar de ser um Caboclo de Ogum, vindo a trabalho
pela Falange de Ogum Rompe Mato, o Caboclo Rompe Mato está sobre a irradiação vibracional de Oxossi, e por esse motivo traz as cores vermelho e verde, em suas guias ou algumas roupagens. Ele costuma se apresentar austero e bem rigoroso, contudo é muito amoroso e aconselhador.

Ele se apresenta em trabalho nos terreiros de Umbanda trazendo a paz, conselhos, boa conduta, saúde, tranquilidade, caridade a todos que buscam auxílio mediante ao merecimento de cada um.

A história que vamos relatar é do Caboclo Rompe Mato pela Caridade vindo na irradiação de Oxossi dentro da Falange de Ogum Rompe Mato.

No final do século XVIII já entrando no século XIX, se criou uma lenda na região Norte do Brasil, na qual se acreditava entre os homens brancos que iniciavam o devastamento da floresta fechada, para cultivar grandes roças e também extrair das seringueiras o látex para a fabricação da borracha. Essa lenda se destinava a acreditar que espíritos da floresta levavam as crianças brancas adoentadas para o interior das matas, para que essas crianças tivessem a cura, caso isso acontecesse eram devolvidas aos pais, caso não, eram sacrificadas.

Contudo essa lenda não era bem assim, existia sim um teor de verdade nessa história, porém não havia nenhum sacrifício em nome de algo ou alguém da floresta.

Tudo começou quando um pequeno índio bastante curioso começou a rondar as terras onde os brancos fixaram moradia para introduzir as grandes roças nas margens da floresta.

Com a chegada desses homens brancos, também chegaram as doenças, que logo se espalharam por entre os índios, dentre eles o pequeno índio curioso.

Seu corpo febril, sua pele ressecada, seus olhos inertes fizeram com que seu pai, o Cacique da tribo, ficasse em desespero, pois não entendia bem os fatos dos acontecimentos de seu pequeno filho.

Rapidamente o cacique levou o garoto a oca do poderoso Pajé, com esperanças de salvar a vida de seu menino.

Chegando nas mãos do Pajé, e ao observar os males passados pelo menino, o Pajé demonstrou uma grande preocupação, acreditando ser a moléstia um castigo dos deuses da floresta ao pequeno índio, por ele ter tido contato com homens brancos.

O Pajé pega o menino aos braços, e parte para o interior mais sombrio da floresta, onde poucas pessoas conheciam. Chegando lá, juntamente com o cacique, ele, o Pajé, se põe a fazer sua dança invocando as forças espirituais da floresta, para que assim tenha uma resposta sobre aqueles males, que na sua visão eram feitiçarias.

O cacique, bravo guerreiro, dominador dos perigos da floresta, grande e respeitado por todos os índios de sua tribo, não podendo fazer nada com sua força, no momento se sentia fraco, sua alma estava triste em ver seu menino ali, inerte. E em um ato de humildade, o cacique se pôs de joelhos, de braços abertos, olhar perdido, em busca de uma resposta dos céu.

Sua face, antes de um poderoso guerreiro, se transformava em um rosto abatido, entristecido. E de seus olhos brotaram lágrimas, lágrimas teimosas que sem pedir permissão rolavam em sua face, rolavam de acordo com a dor que o poderoso cacique tinha na alma e no coração.

Clamou desesperadamente aos deuses da floresta, clamou sem receio, sem orgulho, apenas demonstrando o desespero de um pai desconsolado, de um simples homem que sabia que estaria perdendo seu maior bem. Seu filho.

O Pajé se entranhou por entre as árvores, em mata fechada, em busca de ervas, raízes, folhas, para tentar reverter a condição do indiozinho.

E nesse instante o cacique apanha o filho no colo, afaga sua
cabeça, chora copiosamente, lamenta a sua dor.

E nessa hora de grande desespero, o guerreiro cacique sente um leve toque em seu ombro. Acreditando ser o Pajé, olha para cima rapidamente, se surpreendendo com a visão.

De baixo para cima, o cacique contempla a imagem de um índio desconhecido. De olhos grandes e serenos, sua face jovial, seu sorriso amigo, trouxe uma certa sensação de paz ao cacique.

Sua voz era forte, porém mansa, que num tom de sabedoria disse a nosso pai desesperado:

"Filho, seu desespero, sua fé e seu amor paternal me trouxeram até aqui. Suas lágrimas verdadeiras me mostraram quanto amas seu filho, e esse grandioso amor não ficará sem uma resposta do céu. Sou Oxossi, meu reino é as matas, as mesmas matas que buscou abrigo para sanar todo mal de seu menino.
Poderei lhe ajudar, poderei mostrar como curar seu curumim, porém você deverá mostrar a ele o bem, ensinar-lhe a fazer o bem, sem escolher a quem fazer.

Se ensinar-lhe de forma correta, esse menino será a luz da
floresta escura, se não o ensinar de maneira correta, ele se perderá na escuridão e nos braços da morte eterna."

Dizendo isso, a imagem de Oxossi, estende a mão ao cacique, que deixa o corpo do menino sobre as folhagens estendidas ao chão. Se levanta, e segue o Pai das Matas para o interior da mata. Lá o poderoso médico das florestas mostra algumas ervas e raízes que deverão serem levadas para fazer a maceração, e assim fazerem o remédio para a cura, não só do pequeno Curumim, mas de todos que passavam pelo mesmo mal.

O cacique fez tudo que fora ensinado por Oxossi, e após fazer as compressas, chás, e banhos, o menino reage, seu estado febril não mais existe, seus olhos voltam a brilhar, sua vida de criança nasce novamente.

Com isso, quando menos se esperava o cacique se encontra só novamente, o Pai das Matas se foi, deixando apenas a sensação de paz em toda a floresta.

O Pajé retorna, se surpreende ao ver o curumim brincando pelas árvores gigantescas, e logo o cacique lhe conta o acontecido.

Os três retornam para a aldeia, com uma grande quantidade das ervas, raízes e tudo mais indicado pelo senhor da floresta, fazem todo o trabalho aprendido, e todos que estavam com os males dos brancos se recuperam.

O cacique faz o prometido, ensina cada passo da cura a seu filho, que presta atenção a cada detalhe, aprendendo todos os passos, e já fazendo todo o tratamento sozinho.

Os anos se passam, o curumim agora já é um belo e grande índio guerreiro. Ele que tem a responsabilidade de ir em buscas das ervas e raízes indicadas por Oxossi, a cada necessidade. Como todas essas ervas ficavam no interior extremamente fechado das florestas e matas, o índio passou a ser conhecido como Rompe Mato, e assim se manteve em busca de cura, não só para aquela moléstia principal, mas para todas
as moléstias que por ventura aparecessem.

Em um certo período, já na época do grande estouro do ciclo da borracha, uma grande quantidade de pessoas vinham da região Nordeste do Brasil para a região Norte em busca das seringueiras e do látex. Com isso a disseminação de doenças se expandiram extremamente, não só entre os índios, mas também entre os brancos, principalmente nas crianças.

Com a guerra da ganância dos seringueiros, os índios foram
afastados, sendo expulsos, e obrigados a viverem no fundo da floresta, locais de matas muito fechadas, onde os seringueiros não se arriscavam em entrar.

As doenças continuavam a matar as crianças, filhos de
seringueiros. Sem piedade, dezenas delas eram tomadas pelos braços malignos da morte, sem que ninguém pudesse fazer nada.

Certa noite, longe da aldeia, bem próximo da região tomada pelos homens brancos, o índio Rompe Mato observa uma mulher, com uma criança no colo. Essa mulher chorava desesperadamente, pois sua filha estava a beira da morte. Uma menina de uns 3 a 4 anos, inerte, febril, sem chances de vencer a guerra contra a moléstia, se encontrava envolvida em um pano branco, demonstrando que já a preparavam para seu
sepultamento, logo após o desencarne.

A mulher chorava, solitária, frágil, desolada. Cansada de tanto sofrimento, a mulher adormece, sem notar que estava sendo observada pelo índio Rompe Mato. Esse foi até ela, com seus passos leves, sua agilidade e sua vontade de poder curar aquela criança, e numa ação rápida pegou a menina e a levou para o interior mais inacessível da mata. E lá com a ajuda das ervas e raízes de Pai Oxossi, curou a menina de sua moléstia.

Ao acordar e não ver a menina, a mulher que antes desesperada, fica enlouquecida, sai gritando em busca de ajuda, para que trouxessem a sua filha de volta.

Alguns seringueiros, armados com seus facões, saíram em busca da menina, porém sem o menor resultado positivo. Ao retornarem as suas choupanas, a conversa virou apenas um só tema: "Espíritos da floresta levaram a menina".

Enquanto seringueiros debatiam o fato, o índio Rompe Mato,
aproveitando a oportunidade, leva a menina curada de volta, deixando-a muito próxima da choupana de sua mãe, que logo encontra a criança.

Ao indagar a pequena sobre o que tinha acontecido, todos os
moradores da aldeia dos seringueiros, ficaram perplexos com os relatos da menina, dizendo ela que ela só lembrava de um lugar lindo, de um anjo vestido de índio, que voava pelas árvores, que deu a ela um remédio um pouquinho amargo, mas que ela se sentia bem em tomar. E o remédio fez com que ela ficasse forte, e então o anjo trouxe ela de volta pra casa.

A partir dali todos acreditaram que o anjo era um espírito da
floresta, que com sua bondade curava as crianças, e mandava o chá sagrado aos adultos.

Muitas mães deixavam seus filhos sobre a mesma pedra na qual Rompe Mato pegou a menina, para que assim ele levasse outras crianças também, e as curassem. E assim ele fazia. constantemente.

O tempo passou, Senhor Rompe Mato continuava com sua missão de cura, crianças, adultos, homens e mulheres da aldeia dos seringueiros eram curados pelas mãos e a fé do índio. Que mesmo vendo seu povo ser expulso das terras que nascera, ele não se deixava enfurecer, não deixava o ódio tomar conta de sua alma, e peregrinava, dia e noite na busca das ervas e raízes para salvar todo aquele povo dos males.

Porém certa noite quando o índio ia para a aldeia em busca de auxiliar mais um grupo de adoentados, fora capturado pelo chefe dos seringueiros e seu bando, sendo colocado amarrado, e em uma intensa tortura física e moral. Sem saberem que era ele o autor das curas feitas, nas caladas noites sombrias, a intensidade do açoite se estendeu por dias, e a pretensão dos seringueiros era saber sobre outras riquezas daquela região, além do látex.

E assim se passaram dias e dias de intensa covardia sobre o nosso amado Rompe Mato, até que aconteceu o inesperado, a filha do chefe dos seringueiros contraiu a moléstia devastadora.

Ele, o chefe dos seringueiros, acreditando que a cura viria do
espírito das matas, levou a menina ao local onde o índio Rompe Mato sempre buscava as crianças para tratamento. Porém por estar ele, o índio, preso nas garras perversas dos gananciosos seringueiros, não tinha como levar a cura a pequena menina adoentada.

Se passaram duas noites e era visível a piora da menina, e visível também era o desespero de sua mãe, que clamava ao marido que buscasse orientação com o índio que se encontrava preso pelos seringueiros, pois sendo ele da região, talvez soubesse algo sobre o "espírito das matas" que curava tantas pessoas.

O chefe dos seringueiros, não tendo mais esperanças, e nem mais o que fazer foi até o índio torturado, e num gesto de prepotência e ódio, ordenou a ele que dissesse tudo que sabia sobre o tal curador das matas. Rompe Mato sem entender muito bem o que era falado, clamou ao chefe dos seringueiros que ele o explicasse melhor sobre que espírito das matas ele se referia, sem saber que ele próprio era visto assim por aquele povo.

Ao ser explicado melhor sobre os fatos acontecidos, Rompe Mato entende que era sobre as curas feitas por ele que era falado, e em sua inocência e cultivador da caridade, ele se expressa dizendo que era ele próprio que levava as crianças até certo ponto da floresta e as curava com ervas e raízes que colhia após serem abençoadas pelo Pai das Matas, o grande rei Oxossi.

O seringueiro chefe fica irradiando ódio pelos olhos com a
resposta, pois acreditava que o índio estava mentindo, e estaria
usando do fato da doença de sua filha para sair da situação que se encontrava.

No instante seguinte,sem refletir sobre a situação, o chefe crava um punhal de aço no peito do índio, que cai inerte nos braços da mãe terra.

Os olhos do índio se cerraram, sua respiração se finda, seu
coração, que já não batia mais dentro do peito, despejava lágrimas de sangue. Ele estava desencarnado.

Do alto de uma imensa árvore sai a imagem de Oxossi, que plaina junto ao corpo inerte de Rompe Mato, diante dos olhos de todos.

E dessa imagem sai uma voz forte, porém serena, dizendo aos seringueiros que aquele índio era o caminho para a cura de todos que ali se encontravam, porém a ganância, a prepotência, a falta de humildade e o ódio, dissiparam todas as esperanças que poderiam ter naquela região.

Dizendo isso Oxossi estende a mão, e em sua direção o espírito do índio se apresenta, não mais com os sinais de tortura que havia passado, mas como um poderoso guerreiro das matas, que além de ser abençoado pela proteção de Oxossi, tinha a grandiosa proteção de Ogum, o senhor das guerras. E essa proteção ia ser usada para retirar das matas todo aquele ódio deixado pelos seringueiros gananciosos.

Nesse instante apareceu do lado de Oxossi e de Rompe Mato a imagem onipotente de Ogum, demonstrando toda a força contida naqueles seres para lutarem contra o mal.

Os três partiram para o interior inexplorável da mãe floresta, e
lá Oxossi e Ogum entregaram o índio Rompe Matos aos cuidados da sagrada e bela Cabocla Jurema, que encaminharia o índio as terras do Juremá, para que assim esse pudesse ser coroado mais um rei das matas e poder trabalhar em prol da caridade na linha espiritual da Umbanda.

A partir desse acontecimento muitas crianças daquela região
tiveram a moléstia, e para desespero de todos os pais a cura não mais acontecia. Várias delas desencarnaram, inclusive a filha do seringueiro chefe, que passou a ser odiado por todos seus seguidores, pois entenderam que ele fora o culpado do desencarne do índio Rompe Mato, sendo assim não havendo esperanças de cura para ninguém daquela região principalmente as crianças.

O índio passou a ser conhecido como Caboclo Rompe Mato, e era ele que protegia o espírito de cada criança que desencarnava com a moléstia pecaminosa, e assim se cria a lenda de que o Caboclo Rompe Mato é o cuidador e protetor de todas as crianças. E dizem que a cada manifestação desse Caboclo nos Terreiros de Umbanda, ele vem em companhia de vários Erês, que mesmo sem se manifestarem em incorporação, estão dentro do Terreiro para a proteção de todos.

Que o Caboclo Rompe Mato nos proteja, proteja nossa família e nossas crianças.

Salve todos os Caboclos!

Salve a Cabocla Jurema!

Patacori Ogum!

Okê Arô Oxossi!

Okê Seu Rompe Mato.



Texto: Carlos de Ogum
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