terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Origem Indígena da Umbanda - Catimbó - Jurema - Toré


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Origem Indígena da Umbanda
por Alexandre Cumino

De sua raiz indígena a Umbanda recebe o amor à natureza e a influência do xamanismo caboclo e pajelança, bem como o uso do fumo, que é considerado erva sagrada para os índios. Um culto irmão da Umbanda, o Catimbó, Jurema ou Linha dos Mestres da Jurema, também realiza trabalhos com entidades espirituais de forma muito parecida com esta, sob influência direta do Toré, que é uma prática essencialmente indígena.

 A Umbanda e o Catimbó trabalham com algumas entidades em comum como, por exemplo, Caboclo Tupinambá na Umbanda e Mestre Tupinambá no Catimbó, Caboclo Tupã e Mestre Tupã, Caboclo Gira-mundo e Mestre Gira Mundo, Pai Joaquim e Mestre Joaquim, e o tão conhecido Mestre Zé Pelintra, juremeiro muito presente na Umbanda.

 Alguns chegam a dizer que a Jurema é “Mãe da Umbanda”, de tanto que teria colaborado com esta. O Toré e a Jurema são vivos ainda hoje nas tribos Kariri – Chocó, considerados os guardiões da Jurema. Em conversa com um amigo desta tribo, o índio Tkainã, o mesmo me esclareceu que Aruanda é a Terra da Luz para sua cultura, falada na língua Macrogeu, “coincidentemente”, Aruanda é o Céu, correspondente ao Mundo Astral, para os Umbandistas.

Muitas vezes na Umbanda se usa o termo Jurema para identificar um local do mundo espiritual de onde provêm os caboclos.

O uso de chás, banhos de ervas e defumações é algo em comum para indígenas, africanos e europeus. Em muitas Tendas de Umbanda se vê o uso do Maracá (chocalho indígena) e outros elementos como penachos e cocares, usados pelas entidades incorporadas, que dá todo um ar indígena para a Umbanda.

A primeira manifestação de Umbanda que se tem notícia é do Caboclo das Sete Encruzilhadas, que justifica chamar-se “caboclo” por ter sido índio em uma encarnação aqui no Brasil, esclarece ainda que em outra encarnação foi o Frei Católico Gabriel Malagrida, queimado na Santa Inquisição.

São os Caboclos os verdadeiros mentores da Umbanda, se apresentando como linha de frente e de comando dentro da religião, sendo na maioria das vezes quem responde pela “chefia” e responsabilidade do que é realizado dentro de uma Tenda de Umbanda.

Dessa forma, vamos percebendo que existe uma cultura indígena forte dentro da Umbanda, na qual destacamos três pontos que se ressaltam nessa raiz:


1. O Xamanismo é a prática realizada por aborígines do mundo inteiro, como siberianos,
australianos, indianos, africanos ou índios das três Américas. Consiste no uso de poderes psíquicos para, em estado alterado de consciência, encontrar respostas, realizar curas ou profecias. Muitas vezes para entrar nesse estado, de transe, usam a ingestão de bebida ou fumo que lhes propicie ampliar sua consciência, sair do corpo em busca de respostas ou receber, incorporar, a presença de um animal de poder ou energia poderosa, para auxiliar sua tribo. Aqui no Brasil os Pajés são considerados xamãs, e a pajelança um xamanismo; da mesma forma, os rituais onde está presente a bebida de poder também é visto como prática xamânica. Podemos lembrar aqui do Santo Daime, Ayuaska, Peiote, Jurema e até a Canabis Ativa (Maconha) sagrada para a religião Rastafari, da Jamaica, onde tal erva é fumada apenas em ritual, e não é compartilhada para não adeptos.

2. O Toré, que é ainda praticado no Brasil pela tribo dos Kariri-xocó, consiste de uma dança
realizada com a infusão da bebida feita à base de Jurema, que pode ser mais ou menos enteógena (alucinógena para os psicólogos e leigos), palavra que significa “Encontro com Deus”. Os índios reverenciam uma divindade como um gênio que é o Espírito da Jurema, diferente de Cabocla Jurema. Da árvore de Jurema os índios usam as folhas, sementes e o tronco, para fazerem bebidas, maracás (chocalho) e cachimbos, onde o fumo também é misturado com folhas de jurema.

3. O Catimbó ou Linha da Jurema é muito praticado no Nordeste, principalmente Pernambuco, consiste em um culto que combina as tradições do Toré com a Magia Europeia, onde a presença afro se percebe menos. A palavra Catimbó pode ser derivada ou deturpada de Cachimbo, não se sabe ao certo sua origem, no entanto, tornou-se sinônimo de Magia de uma forma pejorativa, às vezes confundida com Magia Negra, o mesmo caso do que aconteceu com a palavra Macumba. Por isso, muitos “catimbozeiros” preferem ser chamados de “Juremeiros” ou simplesmente de Mestre, que é como se identificam os espíritos guias e também os dirigentes do culto.

Seu ritual lembra um pouco a Umbanda, no entanto cada médium costuma trabalhar apenas com um ou dois Mestres Espirituais, que pode ser índio, preto-velho, baiano, marinheiro e outros. Todo o trabalho é feito com o uso da Marca (Caximbo) por parte dos espíritos, e sempre com o uso da bebida de Jurema, antes e durante as incorporações.


 Para fazer parte desse culto, o neófito passa por uma iniciação chamada “Tombo da Jurema” onde sob um preparo especial de bebida de jurema esse médium sai em espírito e vai encontrar seus mestres no astral, onde em espírito vão aprender sobre a arte da Jurema. Muitas entidades da Jurema vêm na Umbanda e vice versa, o mestre de Jurema mais conhecido por aqui é “Seu Zé Pelintra”, que por sua origem externa à Umbanda vem em qualquer linha, caboclo, preto-velho, baiano ou exu.

• Luiz da Câmara Cascudo, que foi o maior folclorista brasileiro, publicou em 1951 o título Meleagro, que é um estudo de mais de 20 anos sobre o Catimbó, ainda hoje é a obra mais completa sobre o assunto, na segunda edição da obra ele apresenta comentários interessantes para este nosso estudo:

Creio que antes de 1928 estaria eu dando campo ao Catimbó em Natal, contagiado pelas
reportagens de João do Rio às religiões suplementares na Capital Federal. Em 1928, dezembro, Mário de Andrade (1893-1945), meu hóspede, “fechou o corpo” com um Mestre frequentador de nossa chácara.

Pagou vinte mil réis e narrou a proeza em crônica que não consegui reconquistar. 


Denunciaria a técnica catimbozeira natalense há 49 anos, fase das anciãs perquiridoras. Terminado em dezembro de 1949, a Editora AGIR publicou em 1951 MELEAGRO, nome pedante para justificar feitiço da Grécia em mão africana. Não se falava ainda em Umbanda, mesmo na cidade de Salvador onde fui garboso “calouro” de medicina em 1918, residindo na Baixa do Sapateiro. Édison Carneiro, baiano investigador devoto, não registra o vocábulo no Candomblé da Bahia, 1948 e em A Linguagem Popular da Bahia, 1951. Redigiu o verbete “Umbanda” para o meu Dicionário do Folclore Brasileiro. Depois de 1960 é que a Umbanda abordou Natal [...]

Neste MELEAGRO verifica-se minha familiaridade com os “Mestres”. Dizê-los “Catimbozeiros” era agressão. Reinava o amável sincretismo acolhedor entre os “Mestres do Além”, africanos, indígenas e mestiços nacionais [...]

No Dicionário do Folclore Brasileiro, 1954, Câmara Cascudo nos apresenta a definição do verbete Catimbó, da onde retiro os fragmentos abaixo, que é a parte do texto que nos interessa aqui:

Feitiço, coisa-feita, bruxedo, muamba, canjerê e também o conjunto de regras e cerimônias a que se obedece durante a feitura do encanto. Reunião de pessoas, presidida pelo “mestre”, procedendo à prática do catimbó [...]

“Catimbó quer dizer cachimbo, usado pelo mestre. O catimbó não é religião. Não tem ritos maiores, como o candomblé baiano, o xangô pernambucano, sergipano ou alagoano, ou a macumba carioca. Com breve liturgia, o mestre defuma os assistentes com o fumo de seu cachimbo e recebe o espírito de um mestre defunto, Mestre Carlos, Xaramundi, Pinavaruçu, Faustina, Anabar, indígenas, negros feiticeiros, como Pai Joaquim, bons e maus. Todos acostam, receitam e aconselham. Cada um deles é precedido pelo canto da linha, melodia privativa que anuncia a vinda do Mestre ou da Mestra.

Não há indumentária especial, escolas de filhas de santo, comidas votivas, decoração, bailado, instrumentos musicais. O mestre é o curandeiro, o bruxo. Há, naturalmente, a presença de elementos negros e ameríndios, nomes de tuxauas e de orixás, rezas católicas, num sincretismo inevitável e lógico.

O catimbó é prestigioso nos arredores das grandes cidades, consultório infalível para pobres e ricos, embora sem a espetaculosidade sonora do candomblé, da macumba e dos xangôs nordestinos. Na Pajelança amazônica intervêm animais conselheiros, mutuns, boiúnas, cavalos-marinhos, cobras, jacarés, ao lado de mestres e mestras. O catimbó aproxima-se velozmente do baixo-espiritismo, perdendo a ciência dos remédios vegetais e a técnica de São Cipriano e da Bruxa de Évora. Representa, como nenhuma outra entidade, o elemento da bruxaria europeia, da magia branca, clássica, vinda da Europa, herdeira dos bruxos que o Santo Ofício queimou e sacudiu as cinzas no mar. O mestre é uma sobrevivência do feiticeiro europeu, e não um colega do babalorixá, babalawô ou pai-de-terreiro banto ou sudanês. Catimbó não é sinônimo de Candomblé, macumba, xangô, grupo de Umbanda, casa de mina, tambor de crioulo, etc. É uma presença da velha feitiçaria deturpada, diluída, misturada, bastarda, mas reconhecível e perfeitamente identificável. Foi motivo de quase vinte anos de observação pessoal para o Meleagro, ed. Agir, Rio de Janeiro, 1951 [...]1”

Texto do Livro História da Umbanda, de Alexandre Cumino, Editora Madras.

1 CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro, Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1984, 5ª Ed., p. 206.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

A Erva e a bebida de Poder e Sua Relação com o Médium – Mediunidade Xamanica e de Umbanda

“No momento em que você profana o sagrado, o resultado é dor”.
Frase de Edmundo Pelizari

Manipular uma erva de poder, dentro de um ritual, é uma ação Sagrada, muito diferente da dependência da mesma no dia a dia da pessoa.

Na cultura Andina, por exemplo, a folha da coca é Sagrada e consagrada em rituais à Mãe Terra. Bem diferente do uso abusivo e profano que vicia e causa muitos danos.
Diz uma lenda que o povo Andino rogou praga ao povo Europeu por ter destruído sua cultura e acabado com suas folhas de coca:

“Vocês sofrerão por terem profanado nossa erva Sagrada, a coca”.

Sabemos que a cocaína, produto quimicamente industrializado do principio da folha de coca, é avassalador mal que aflige a sociedade mundial. É a profanação do Sagrado causando dor e morte através do vício.

O mesmo ocorreu com o tabaco, usado para fins ritualísticos pelos indígenas, sofreu a interferência do europeu que o industrializou, profanando assim a erva sagrada e transformando-a em vício.

Quando utilizado pelas entidades de Umbanda, o tabaco retoma sua origem e, no momento do ritual é erva sagrada de poder e não vicio.

O mesmo acontece com a cana que é transformada em bebida e, quando consumida dentro do ritual é sagrada, manipulada para fins terapêuticos e não profanos.

A entidade incorporada em seu médium, não consome cachaça a fim de se embriagar, ou ao médium, não necessita de quantidade e sim do fluído que purifica, descarrega e promove assepsia. A entidade não necessita dar espetaculares demonstrações de seu “poder”, bebendo demais ou caminhando sobre cacos de vidro, por exemplo.

O poder real de uma entidade de Umbanda está no bem que ela, junto a seu médium, promove. Está na palavra amiga, no alivio das dores físicas e morais daqueles que as buscam.

Seu poder nada tem a ver com espetáculos ou provas infantis de força. Seu poder é o amor que espalha tocando corações e auxiliando o progresso das pessoas.

O uso da bebida e do fumo são quase práticas Xamanicas, porém o Xamã e o médium de Umbanda são diferentes instrumentos da espiritualidade utilizando as mesmas ferramentas de trabalho de formas diversas e, por vezes, com o mesmo fim.

Nas sociedades primitivas, antes do surgimento das religiões, o homem já praticava a experiência da transcendência, existem estudos sobre o assunto.

A experiência transcendental é única, inexplicável,  pois pertence ao individuo e cada um vive e experimenta o transe de forma particular, única,  e cada um tem seu propósito, cada individuo utiliza o transe para um determinado fim.

Entrar em transe tanto pode acontecer de forma espontânea quanto induzida. Na Umbanda há o desenvolvimento mediúnico que é uma técnica, no Xamanismo a técnica consiste em cantos, toques de tambor, muito semelhante à indução ao transe na Umbanda em alguns terreiros, pois existem outros que não utilizam tambores, ou atabaques.

No Xamanismo o tambor é chamado de arco porque simboliza o arremesso ao mundo espiritual, ao estado alterado de consciência que possibilita ao aspirante, tornar-se um Xamã. 
Nesse ponto encontramos semelhança com a mediunidade de Umbanda.

Outra maneira, muito particular de tornar-se Xamã é pela experiência dolorosa da doença que não encontra cura nas terapêuticas disponíveis. Diante disso, aquele que se tornará Xamã, a partir dessa experiência, sai do corpo, em desdobramento astral, incorpora um espírito e percebe que sua doença, na verdade é uma doença da alma apontando desequilíbrio com o mundo dos espíritos.

A partir do momento que essa pessoa consegue se curar, ela se torna um Xamã porque ela alcançou a cura da alma por intermédio de uma revelação espiritual, uma experiência transcendental que lhe ensina o caminho da cura possibilitando-o, dali por diante, a  ser um curador que muito provavelmente manterá  contato direto com a espiritualidade.

Essa doença, que acomete os aspirantes a Xamãs é conhecida como doença Xamanica.

O fundador da Umbanda, Zélio F. de Moraes, viveu algo semelhante antes da fundação da Umbanda.
Ele sentia dores, passava mal e sua família relatava que ele sofria com “ataques”.
Na verdade Zélio teve uma doença Xamanica hoje conhecida e classificada como mediunidade.

Existe um ditado, no meio Umbandista, que diz o seguinte:

“Quem não vem por amor, vem pela dor”.

A dor seria a doença Xamanica, ou o aflorar da mediunidade e o amor a fé e o encantamento que a Umbanda propicia àqueles que a buscam de coração e mente abertos.

A mediunidade mal trabalhada ou negligenciada causa vários transtornos ao médium, por isso o Xamã diz ser uma “doença” do espírito e as entidades de Umbanda aconselham seu desenvolvimento a fim de que a pessoa retome seu equilíbrio espiritual que se reverte, por sua vez, em saúde física e emocional.

Podemos concluir que todo médium é um pouco Xamã e que mediunidade é muito mais que um mero termo para rotular o individuo que entra em transe mediúnico.

Nas sociedades antigas médiuns eram considerados Xamãs, rotular, porém, a mediunidade e o médium, seria limitar os potenciais que podem se manifestar em cada um de nós.

Mediunidade, portanto, é muito mais e não se limita a um sistema, a uma única forma de ser trabalhada, mediunidade transcende. O Xamanismo nos mostra esta transcendência de forma muito clara e todo Umbandista sente simpatia/afinidade com esta forma Xamanica de trabalhar a mediunidade.

As entidades que se manifestam através de nós tiveram várias encarnações, assim como nós também tivemos e, sermos simpáticos à Umbanda ou a outra religião mediúnica, revela que em outros tempos, muito provavelmente, a magia e seus mistérios nos foram muito familiares.

Annapon
17.11.2014

(Texto baseado no Curso de Teologia de Umbanda Sagrada – Desenvolvido por Rubens Saraceni – Ministrado por Alexandre Cumino)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Orixá do Conhecimento – Pai Oxóssi – Mãe Obá

O conhecimento é a terceira vibração ou a terceira linha de Umbanda onde se encontram “Pai Oxóssi” e “Mãe Obá”.

Oxóssi é universal, amparador, sustentador e Obá é cósmica na linha do conhecimento, ou seja, reparadora dos desvios no campo do conhecimento.

Existem muitas maneiras de interpretar as sete linhas de Umbanda, cada autor  coloca as sete linhas de maneira diferente.

As sete linhas de Umbanda são as sete vibrações de Deus, esta é a nossa leitura, nossa interpretação que não está invalidando nenhuma outra leitura, mas que está aqui ajudando a clarear, ajudando a entender outras formas de leitura sobre as próprias sete linhas de Umbanda. (Alexandre Cumino)

A primeira linha, vibração é a “fé”, sem fé não existe nada. A segunda é o amor, pois sem amor não há sentido de se ter fé em Deus.

Numa religião onde não existe o amor, tudo é frio, vazio.

 É muito estranho pregar ou ensinar que “deve-se amar ao próximo como a si mesmo” e ao mesmo tempo só reconhecer Deus para os adeptos de uma mesma religião, é muito estranho ensinar “ame ao próximo como a si mesmo” e pregar o ódio ou o preconceito para quem não está dentro do mesmo Templo, todos são filhos de Deus, não há diferença de religião para Deus, quem faz as religiões são os homens, inspirados ou não, criam as religiões.

 A Umbanda tem um marco, esse marco é um homem, Zélio Fernandino de Moraes e por mais que tenha incorporado um espírito que é o Caboclo das Sete Encruzilhadas, e que a Umbanda tenha vindo do astral, de Deus e dos Orixás, se não houver um encarnado para fazer o trabalho não se estabelece uma religião.

A religião é do mundo material, antropológico, social e Deus está acima, inclusive das religiões. Deus é maior do que as religiões e por meio das religiões buscamos esse algo maior, que transcende as religiões.

Como pensar que Deus, que é maior do que as religiões, que transcende as religiões, pode caber, pode estar enlatado, encaixotado, enquadrado, ou rotulado, pode estar contido apenas dentro da minha religião? É falta de amor. Porque o amor de fato não vê a cor, o amor não vê a raça, o amor não vê o credo, “O amor é cego”, porque o amor não vê, ele sente.

O amor transcende a visão, mas usa a visão para se enriquecer e não para se empobrecer porque por meio da visão o amor trabalha o belo, o agradável. Aquele que tem olhos de amor, quando olha para o outro, sempre lhe será belo, sempre lhe será agradável. É dito que Jesus não via defeito nas pessoas porque Ele não os tinha.

Todos os defeitos que eu vejo em alguém, só os vejo porque eu tenho os
mesmos defeitos e estou me identificando e quando eu não tenho esses defeitos isso não me incomoda, eu sou indiferente.

 Quando os olhos são amorosos, a pessoa cuida de o pior ser humano do mundo como se fosse o melhor porque não vê os defeitos, só vê a alma, o espírito.

O conhecimento diz respeito ao estudo.

O conhecimento vem depois do amor nas sete linhas de Umbanda, por quê?

 Porque aquilo que eu estudo sem amor não vai me levar a lugar algum.

Quando falamos do amor, dizemos: o que adianta você ser um médico se você não ama a medicina? É um médico medíocre. O que adianta ser um advogado se você não ama defender os direitos do ser humano? É um advogado medíocre. Se for uma trabalhadora do lar que não ama cuidar do lar, ela é medíocre para fazer uma limpeza ou todas as tarefas do lar.

Há de se amar o que você tem e o que você faz e há de se ter amor pelo conhecimento.

 O que é que me impele ao conhecimento? A vontade de adquirir conhecimento, essa vontade de adquirir conhecimento também é amor. Porque eu quero estudar medicina, “estudar” é conhecimento, “quero estudar: medicina” porque tenho amor.

Por que eu quero adquirir mais conhecimentos sobre a Umbanda?

Porque eu tenho amor pela Umbanda. Não existe amor sem fé. E esse conhecimento para que eu me aprofunde nele, é preciso que eu queira que eu ame. Por que é que eu fico ávido por leitura, por saber? Porque tenho amor.
 Aquele que estuda apenas para ser mais do que o outro, aquele que estuda só para dizer que é melhor do que o outro, esse é arrogante.

 E o arrogante não está no amor, o conhecimento do arrogante é um conhecimento de vaidade, é um conhecimento que não leva a nada, e ao mesmo tempo nunca vai levar aos lugares que o amor leva.

Essa é a ordem: “fé, amor e conhecimento”, terceira via, terceiro sentido da vida, terceira linha, terceira irradiação, depois entra a “justiça”, por que nessa ordem? Porque sem conhecimento não se aplica justiça.

Depois vem a lei, justiça e lei são entrelaçadas porque sem justiça não se faz lei. Como fazer a lei, colocar a ordem se você não tem um senso de justiça?

 Sem amor, conhecimento, justiça e lei não há evolução, crescimento, transformação e não se gera nada. Então, aí estão os sete sentidos, existe ordem e razão de ser.

A terceira linha, terceira vibração, o conhecimento está em sintonia com o elemento vegetal. A força do conhecimento é uma força expansora, onde estão os Orixás: Oxóssi e Obá – “Oxóssi é expansor”, “Obá é concentradora” – Oxóssi é o próprio vegetal, ele é o caçador – caçador é aquele que vai buscar, ele é o “senhor das matas”, “senhor de todo Reino Vegetal”. Existem outros Orixás vegetais? Existem, Ossain que é o “senhor das folhas”, é vegetal. Não tem Ossain na Umbanda?

 Não existem Orixás de Umbanda, qual Orixá não é da Umbanda?

 Existe sim qual Orixá você conhece, cultua, e qual Orixá você não conhece e não cultua.

Se você conhece “Ossain”, você pode cultuar Ossain, pode ter devoção por Ossain que é o “senhor das folhas”. Mas, em qual linha de Umbanda está Ossain? Só tem quatorze? Quatorze Orixás?” Não, você tem tantos Orixás quantos você conhecer. “Mas, ué? Aqui a gente só tem sete linhas e quatorze Orixás, como é que fica isso?”

Fica que os outros Orixás estão também nessas sete linhas, basta você encontrar onde eles se encaixam.

“Ossain”, que também é vegetal, está na mesma vibração de Oxóssi. “Aroni” também é vegetal está na vibração de Oxóssi. “Logunedeque” é vegetal com amor, que é filho de Oxóssi com Oxum, ele é um intermediário do conhecimento para o amor.

 “Odeque” também é caçador, também está na linha vegetal.

Existem centenas de Orixás, mas, muitos são os mesmos Orixás com outro nome como, por exemplo, Omulu é o “senhor da morte”, “Iku” é a morte, está no mesmo campo.

Conhecimento é algo vasto e conhecimento enquanto linha de Umbanda, sentido da vida, de vibração, tem que ser algo que não fique limitado apenas a dizer: “Ah conhecimento é a capacidade de pegar um livro ler, estudar, fazer um curso, alguma coisa assim”. Não. “Conhecimento” aqui é: a linha vegetal, a linha da expansão.

A capacidade de expansão está diretamente ligada ao conhecimento. Essa força do conhecimento é a força de Oxóssi, é a força de ir buscar, é força do caçador.

Na mitologia Nagô Yorubá, Oxóssi é irmão de Ogum, em algumas lendas aparecem sempre juntos: Oxóssi, Ogum e Exu. E numa estrutura tribal – imaginemos então essa estrutura – uma tribo no meio de uma floresta que é um meio de relacionamento íntimo entre o Orixá Oxóssi, as matas e caçador. Há uma relação com o índio muito forte.

Imagine uma sociedade tribal, você tem uma tribo no meio de uma mata, as pessoas dessa tribo podem pescar, elas podem caçar, plantar e ali naquela cultura então você tem a figura do caçador dentro de uma tribo. Quem é o caçador? É aquele que sai da tribo para buscar recursos, esse é o caçador.

Quando a gente fala do “caçador” tem que imaginar em que contexto de cultura existe a figura do caçador. Porque temos que trazer isso para o dia de hoje. Quem é o caçador hoje em dia? Quem é o caçador na nossa sociedade? Então, é para cá que se tem que trazer esse contexto, porque tem que atualizar o perfil do arquétipo, o padrão mitológico e os atributos e atribuições do Orixá, da divindade na sua vida.

 O Orixá Oxóssi é caçador.

 O que é um caçador? O que representava um caçador dentro de uma cultura antiga, dentro de uma cultura tribal? É aquele que saia da tribo para buscar recursos, esse caçador não saia sozinho. Quando você entra numa mata, vai alguém a frente abrindo caminho, abrindo uma picada, esse que vai à frente abrindo caminho é Ogum.

São vários batedores abrindo caminho onde não há caminho para caminhar.

Vão entrando para saber se há inimigos, se existe perigo, esse é Exu. E há aquele que vai explorando, que vai identificando, que vai pegando, buscando, colhendo, caçando, esse é Oxóssi. Então, Oxóssi é o caçador, é aquele que sai para buscar algo.

Ele sai em busca do alimento, Oxóssi dá essa força. Oxóssi dá para você a força de caçador, de buscar o que você precisa. Por isso a energia de Oxóssi traz fartura para a mesa.

Há uma relação entre Oxossi e o alimento, a fartura, o trabalho, com o trazer o alimento para a mesa, com o não faltar alimento, fazemos oferenda para Oxóssi para que não falte alimento, para que não falte o que comer. Que relação é essa? Como se estabelece essa relação na sua vida com Oxossi? Os Orixás nos trazem padrões emocionais, padrões psicológicos.

Oxóssi traz a força de ir buscar, de você se tornar um caçador e ir buscar o que você precisa, você é caçador todos os dias quando você sai para trabalhar, você é caçador todos os dias quando você sai para buscar algo que a sua família precisa, você é caçador quando você sai em busca daquilo que você está precisando, você é um caçador nesse sentido.

O caçador naquele contexto de tribo, que vai buscar o alimento, é esse caçador que na volta para a tribo traz a informação, traz o conhecimento.

Se essa tribo está numa região escassa de alimento, de animais, de caça, se eles estão plantando e ali não dá, se a tribo precisa mudar de lugar, é o caçador que sai da tribo e traz a informação para onde essa tribo vai, é o caçador que traz a boa nova, é o caçador que traz a notícia, é o caçador que conta como é o mundo lá fora.

O caçador é um comunicador, caçador é um falador, ele é falante, ele é expressivo, ele é comunicativo, é praticamente um geminiano, o caçador, o comunicador. Se estivesse falando em Planetas, ele tem a energia de Mercúrio, de informação. E não importa qual é o teu signo porque não importa de qual signo você seja você pode ter essa força de Mercúrio.

O caçador Oxóssi é amparador da força de caça, da força de buscar e no momento em que você está comunicando, você saiu para caçar alimento, informação, cultura, novidade, você saiu para caçar, para buscar, quando você volta, você está então comunicando, você está compartilhando, multiplicando informação, alimento, etc.

Oxóssi tem essa qualidade multiplicadora por isso ele traz a fartura, traz o pão, ele tem uma relação forte com agricultura também, não com a ferramenta da agricultura porque a ferramenta é de Ogum.

 Ogum foi aquele que descobriu as ferramentas, a forja, o aço, o ferro, mas, Oxóssi é o agricultor no sentido daquele que planta, daquele que faz dar frutos, daquele que faz multiplicar o alimento nesse sentido.

 Quando se traz a informação, o conhecimento, o alimento, você está multiplicando, você está compartilhando, você está no campo de Oxóssi, você está expandindo, você está sendo um expansor, qualidade de Oxóssi. Daí a qualidade dos filhos de Oxóssi que são comunicativos, às vezes diz-se que eles são quietos, recolhidos, acanhados.

Não. Filhos de Oxossi/caçador são falantes, comunicativos, não costumam ser agressivos, mas são falantes, comunicadores, se comunicam bem. No aspecto positivo é um trabalhador, é alguém que põe a mão na massa, que executa que não tem preguiça, é rapidinho, alguém que às vezes faz muitas coisas as mesmo tempo. Por isso filho de Oxóssi pode ter tendência a ser um pouco bagunçado, pois não consegue colocar ordem nas coisas e a ordem é de Ogum.

 Oxóssi é expansor, portanto, falar, dar aula, comunicar, passar informação isso é de Oxóssi, esse é o campo do conhecimento.

A energia vegetal se vê nas árvores, é uma energia expansora, a árvore tem raiz que vai se expandindo e um tronco, tem os galhos, as folhas e isso se expandem para cima. Quando você pega uma folha, você tem um caulezinho e têm várias ramificações se abrindo numa folha, essa é a energia do conhecimento.

É fundamental o conhecimento para que haja entendimento.

Nossos pais nos orientam, mas só a vida ensina. Porque as maiores lições que a gente aprende são lições que a vida dá de uma forma prática, isso também é conhecimento.

Conhecimento não é sabedoria.

Conhecimento é informação, sabedoria é a sua capacidade de lidar com isso.

Se você sabe utilizar bem o seu conhecimento, você é sábio. Sábio é aquela pessoa que tem maturidade, por isso o ancião que viveu uma vida bem vivida, aquele que aprende com a vida, ele se torna um sábio.

O conhecimento é importante, o conhecimento teórico, o conhecimento que vem nos livros é um conhecimento importante, mas o mais importante é “aprender com a vida”. Quando a gente chega num Terreiro de Umbanda como geralmente nós chegamos, como consulentes, estamos em busca de conhecimento, informação, enfim, às vezes, se chega só para pedir coisas.

Mas, ali nós estamos aprendendo com o Guia que está incorporado num médium naquela corrente, o Caboclo, o Preto Velho, o Baiano, o Boiadeiro, eles estão incorporados passando conhecimento para a gente, eles passam conhecimento. No momento em que você mediunicamente avança para se tornar um médium na corrente. Então, você começa a aprender com os Guias do dirigente, você começa a aprender o que aquele ambiente tem a ensinar.

Com o desenvolvimento mediúnico, você começa a aprender de forma direta sobre a vida, que é o mais importante, podemos estudar a Umbanda, mas o mais importante é o que a Umbanda tem a ensinar sobre a vida, o quanto esse conhecimento é válido para me tornar uma pessoa melhor.

Esse conhecimento tem maior valor, tem mais valia, tanto quanto ele pode me transformar numa pessoa melhor, o quanto ele faz de mim alguém mais maduro, a valia é o que eu faço com esse conhecimento, qual a qualidade desse conhecimento. E ali no Terreiro de Umbanda então, como consulente as necessidades são básicas, como médium a gente está aprendendo com o Guia do dirigente até que nós chegamos num ponto que por meio da mediunidade começamos a aprender com os Guias.

O objetivo é que você consiga ter os seus Guias como seus mestres.

Eles vão nos orientando e vão nos guiando pelos nossos caminhos, mas o objetivo maior da espiritualidade é nos dar informação e conhecimento para que cada um de nós aprenda a tornar-se mestre de si mesmo. E você só se torna mestre de si mesmo quando você começa a aprender com a vida, quando a gente começa a entender que todas as situações da vida só vêm para nos dar uma lição, para que a gente possa aprender alguma coisa.

Tudo o que acontece na nossa vida de bom ou de ruim acontece para que se aprenda algo, nós também devemos buscar aprender com cada situação da vida, com cada dor, com cada sofrimento, com cada alegria e isso só é possível de fato, quando a gente busca o conhecimento não apenas fora, mas dentro de nós, isso se chama “autoconhecimento”.

Existem inúmeros livros e literatura sobre autoconhecimento, que a lição maior do autoconhecimento é “tornar-se mestre de si mesmo”, a lição maior é: “aprender com a vida”. E a única maneira de aprender com a vida é ter um olhar atento para o que acontece dentro de você em cada situação da vida, o que é que se pode aprender em cada situação da vida. Porque quando nós não temos apego, quando nós não temos vícios, quando nós não temos desequilíbrios, então a dor quase não existe.

O conhecimento é uma ferramenta incrível para que a gente possa nos tornar alguém melhor.

Eu me torno alguém melhor quando eu estudo Matemática, Geografia, quando eu estudo línguas, quando eu estudo História, vou me tornando alguém que está crescendo no conhecimento, está crescendo na informação, mas eu me torno um ser humano melhor quando eu estou estudando acerca do ser humano, da vida, das relações, quando estou estudando os meus sentimentos, as minhas reações, a minha forma e a arte de se relacionar no mundo, assim estou colocando o conhecimento a favor do crescimento pessoal.

Quando falamos acima, sobre o Amor, falamos sobre dores, traumas, ciúmes, desequilíbrio e em nós existem muitas frustrações, existe em nós muitos sentimentos reprimidos, mal trabalhados, isso gera um desconforto, gera às vezes uma raiva reprimida e que sai de nós no momento errado, igual aquele exemplo do ciúme que a pessoa não conversa e depois vai ter ciúme de uma bobagem qualquer e explode.

 A pessoa de pavio curto, que vai explodindo tudo tem coisas mal trabalhadas dentro de si.

Na Umbanda existe uma identificação muito grande de Oxóssi com Caboclos, inclusive há uma confusão, se faz muita confusão entre Caboclo e Orixá na Umbanda, às vezes se confunde Caboclo com Orixá.

Caboclos são entidades que incorporam e falam, dão passe, dão comunicação.

Quando um Orixá incorpora, ele não fala, o Orixá vem para trazer o seu “axé”, o Orixá vem pra trazer sua força. Por que é que o Orixá não fala? Porque ele não vem para falar. Não é que ele não sabe falar. É que ele vem de outra realidade, é um ser natural. Você não incorpora o Oxóssi Maior, você incorpora um ser natural que vem da realidade de Oxóssi e também incorpora um Caboclo de Oxóssi Na Umbanda a gente não costuma chamar de “Catiço”, chama de “Caboclo”.

Caboclo de Oxóssi é um espírito humano que traz a força de Oxóssi, os Caboclos de Oxóssi são aqueles que no seu nome trazem alguma referência à mata, às folhas, ao verde, a fecha também é um símbolo de Oxóssi porque é o símbolo da caça, do caçador, “Caboclo Sete Flechas” é de Oxóssi, “Caboclo Sete Folhas” é de Oxóssi. “Pena” também é de Oxóssi, “Pena Verde” é de Oxóssi, são Caboclos de Oxóssi, diferente da incorporação de Oxóssi.

Alguns nomes de Oxóssi são nomes de Caboclos, existe “Oxóssi Rompe Mato” e Caboclo de Oxóssi “Rompe Mato”, é isso que a gente tem que observar, tem Ogum Rompe Mato e Caboclo de Ogum Rompe Mato, quem é o Orixá e quem é o Caboclo? Orixá não fala Caboclo fala e é uma entidade. Não confunda. Oxóssi é senhor de tudo o que é vegetal.

Quando a gente usa algo vegetal, pede-se licença a Oxóssi. Há também um Orixá pouco cultuado na Umbanda chamado “Ossain”, ele é senhor das folhas.

 Oxóssi é dono de todo reino vegetal e Ossain é senhor das folhas.

 Quando eu faço um chá estou usando “folhas”, quando eu faço um banho estou usando folhas, quando eu faço uma defumação estou usando folhas ou resinas.

É um fato que todas as folhas são de Ossain, mas ele distribuiu suas folhas para que os outros Orixás pudessem ter cada um a suas folhas. Para isso existe uma lenda na cultura Nagô Yorubá, um mito de que lá no Orun, Ossain era o detentor de todas as folhas do universo e não compartilhava isso com ninguém.

É dito que Iansã, senhora do vento, de temperamento forte, soprou as folhas de Ossain e essas folhas então levantaram e foram caindo. E da forma como as folhas iam caindo, cada Orixá pegou uma, pegou algumas e aí então surgiram as folhas de Ogum, as folhas de Oxóssi, as folhas de Xangô, de Iemanjá, de Nanã, de Omulu porque são as folhas que Iansã soprou das mãos de Ossain.
Ossain foi reclamar com Olorum, Olorum disse “Meu filho, é importante que os Orixás tenham as suas folhas, mas, essencialmente, naturalmente, todas as folhas são suas.

Quando um filho trabalha com folhas, ele pode trabalhar com as folhas de Ogum, de Oxóssi, Xangô, Obaluaiyê, fazer uma defumação, fazer um banho, mas deve antes pedir licença a Ossain. Isso é um mito Nagô Yorubá.

 Na África existiam sacerdotes de Ossain que eram sacerdotes desde crianças, eram preparados para trabalhar a força de Ossain.

Ossain enquanto Orixá é visto como um feiticeiro porque é aquele que manipula as folhas, o seu sacerdote chama-se “Babalossain”.

Ossain é visto como alguém que foi cortado ao meio, existe uma lenda que diz que Ossain brigou com Exu, Exu pegou um porrete deu lhe uma porretada que o cortou ao meio.

Ossain lembra um “saci”, só que ele só tem uma perna, só tem um braço, só tem uma orelha, só tem um olho, mas ele tem um poder muito grande, poder do feiticeiro que é um poder de magia também.

É dito que Ossain só tem uma perna, mas corre mais rápido que todos, só tem uma mão, mas tem mais habilidade do que todos, só tem um olho mas enxerga muito melhor do que todos, só tem uma orelha mas ouve muito melhor do que todos.

 Ossain é um feiticeiro, está no campo de Oxóssi. Na Umbanda entra no campo de Oxóssi, mas a gente pode ter amor por Ossain sem que seja preciso ser do Candomblé para ter amor por Ossain, eu posso ter amor por qualquer Orixá.

Eu não preciso de autorização, outorga de ninguém para me relacionar com um Orixá, Ossain é senhor das folhas. Como que eu me relaciono com Ossain? Da mesma maneira que a gente se relaciona com todos os outros Orixás na Umbanda: acendo uma vela e rezo, qualquer um de nós pode acender uma vela e rezar para Ossain. Que cor de vela? Pode ser uma vela branca ou pode ser uma vela verde, acenda e reze para Ossain.

Você pode fazer um agrado a Ossain, pode fazer uma pequena oferenda, ele recebe fumo de corda, mel e pinga numa cuia, você coloca o fumo de corda, coloca mel, coloca pinga, acende uma velinha, oferece a Ossain quando você precisar da ajuda de Ossain. Ele é aquele que ajuda com as folhas, com a arte de trabalhar as folhas que seja para curar, limpar, cortar demanda, seja para o que for.

Quando você for tomar um banho, quando for fazer uma defumação ou trabalhar com folhas, antes peça licença a Ossain, é simples. Você pode fazer isso ou não ou se você prefere apenas trabalhe com Oxóssi porque Ossain está no campo de Oxóssi, relacionar-se com Ossain é ter mais um Orixá, é ter conhecimento, é ter cultura é se relacionar com uma energia vegetal que é dedicada apenas ao uso das folhas.

Na Umbanda não há incorporação de Ossain, mas existe a incorporação de Oxóssi que está nesse campo.

Dentro da Umbanda também é muito reverenciada a jurema, a força da jurema.

Jurema é o nome de uma árvore, o nome das folhas, as folhas da jurema, a árvore da jurema, a bebida da jurema que é forte elemento do Catimbó.

Fala-se muito da jurema na Umbanda: “Vou abrir minha jurema, vou abrir meu juremar. Com a licença de Mamãe Oxum e meu Pai Oxalá...”, “Defuma com as ervas da jurema, defuma com arruda e guiné. Beijoim, alecrim e alfazema, vamos defumar filhos de fé. Defuma...”, a jurema também diz respeito a esse universo, ao universo vegetal que está relacionado ao “conhecimento”.

A primeira manifestação de Umbanda foi a manifestação de um Caboclo, o “Caboclo das Sete Encruzilhadas”, a segunda manifestação de Umbanda foi a manifestação de um Preto Velho que é o Pai Antônio, ambos incorporados em Zélio Fernandino de Moraes e geralmente o Guia chefe de um Terreiro ou é um Caboclo ou é um Preto Velho, o conhecimento é algo muito forte.

 Antigamente dentro da Umbanda era muito comum proibir os filhos de santo de lerem, de estudar, proibir os médiuns de ler, proibir o conhecimento. Proibir o conhecimento é um absurdo. Hoje em dia se um médium pergunta para um dirigente: “O que é tal coisa?”, se esse dirigente responder “Meu filho, não é a hora ainda de você saber”, “Meu filho você não está pronto ainda pra esse conhecimento”, o médium vai pra casa, liga o computador, conecta na internet, entra no “Google” e escreve lá “Assentamento”, “firmeza”, “tronqueira”, “altar”, “Oxóssi”, “Ogum” e aparece lá um monte de informação.

Estamos na Era da informação, do conhecimento, não se pode negar o conhecimento. O desequilíbrio no campo do conhecimento, o vício, essa arrogância, pedancia, essa ideia de que por ter mais conhecimento você é superior ao outro, isso é um desequilíbrio no conhecimento. A inversão do conhecimento é a ignorância, a mentira.

Quando o sentido do conhecimento é mal trabalhado, quando não se usa de forma equilibrada, quando nós não lidamos de forma equilibrada com o conhecer acerca das coisas, da vida, então a gente começa a ter problemas com a informação, problemas com a verdade, começa a dar o tal do branco, confusão mental e aí entra “Mãe Obá”.

Mãe Obá no sentido do conhecimento é cósmica. Oxóssi é o caçador, Oxóssi é expansor. Obá é concentradora. Oxóssi é vegetal. O sentido do conhecimento é o sentido vegetal. Oxóssi é universal ele expande o vegetal, Obá é aquela que dá o chão e o sustento para o vegetal.

Obá é a mãe, o elemento dela é terra, Obá é a terra que sustenta o vegetal de Oxóssi, é a mãe terra, é “gaia”, gaia é a mãe terra, é nossa mãe Obá. “Senhora do conhecimento” aquela que lhe dá terra, mãe Obá nos dá chão. Se Oxóssi é expansor e ela é concentradora, os filhos de Oxóssi são falantes; as filhas de Obá são concentradas, as filhas de Obá são mais introspectivas.

A força de Obá é uma energia que vem para nos dar foco, objetivo, concentração.

Oxóssi lembra aquele professor expansivo, falante, comunicador; Obá lembra aquela professora rígida, dura, que vem com a palmatória pra lhe acertar a mão se você não está estudando direitinho.

No campo do conhecimento, o ápice é a verdade, é trazer a sua verdade, a verdade é o ápice em todos os sentidos da vida.

Quando aquilo que eu estou falando é a minha verdade, aquilo que eu estou expressando é uma verdade, a minha palavra tem poder, quando eu estou na minha verdade, a minha palavra tem um impacto sobre o outro diferente do mentiroso.

 A pessoa que mente esconde a mão, a pessoa que mente enquanto está mentindo ela trai a si mesma, o mentiroso coça o olho, coça o nariz, o mentiroso pisca e gagueja o mentiroso não tem poder na sua palavra, o mentiroso quando expressa algo esse algo não tem impacto sobre as pessoas porque a mentira “desempodera” o conhecimento.

 O conhecimento não é real se não é uma verdade.

Mãe Obá é também senhora da verdade, senhora do conhecimento da verdade. Nós pedimos a ela que nos ajude a viver o nosso conhecimento na nossa verdade. Quando a gente está perdido com a cabeça bagunçada, quando tem uma confusão mental, ou seja, falta de objetividade, falta de foco, falta de concentração, nós pedimos ajuda a Obá.

Se você vai dar aula, ensinar e multiplicar conhecimento quem lhe ajuda é Oxóssi. Se você vai buscar fartura, comida, quem lhe ajuda é Oxóssi. Se você precisa de concentração, se você vai fazer uma prova, se você tem que se concentrar, se você precisa de objetividade quem te ajuda é Obá. Obá tem essa força de objetivo, é vista como uma guerreira.

Obá é determinada, focada, se é isso que você está precisando peça ajuda a Obá, as filhas de Obá são quietas, são concentradas, não dão muita importância ao vestuário, a beleza, elas são opostas a Oxum. Não quer dizer que a mulher deixa de ser vaidosa, não, a filha de Oxum tem mais preocupação, a filha de Obá tem menos preocupação, ela é muito focada, muito concentrada.

Nós pedimos a Obá que nos dê essas qualidades de concentração, de foco, de objetivo, a terra de Obá é uma terra fértil, diferente da terra de Omulu que é uma terra seca, diferente da terra de Obaluaiyê que é uma terra molhada, a terra de Obá representa a terra fértil onde tudo se planta e depois você vai colher, terra de fazer um bom plantio.

Hoje na nossa sociedade o conhecimento acerca dos valores é algo muito deturpado, o conhecimento acerca de si mesmo é muito deturpado, existe um desvio de valores, existe hoje algo chamado de “máscara social”, nós não vivemos a nossa verdade, é muito comum não viver a sua verdade. Nós podemos pedir a Obá que nos ajude a viver a nossa verdade, a ter foco, a ter objetivo, a ter clareza, que nos ajude a não ter arrogância com relação ao conhecimento porque o arrogante é dono da verdade, é o “sabichão”, é aquele que sabe tudo, sempre tem que estar certo, esse está desequilibrado no campo do conhecimento.

Não admitir que você não sabe tal coisa, que você não tem o conhecimento de alguma coisa é maturidade. Querer estar sempre certo, querer dizer que você conhece tudo, que você sabe tudo é imaturidade, a arrogância em cima da imaturidade é algo que deve ser trabalhado na força de Obá.

O conhecimento que tem valor é o conhecimento que nos torna maiores, melhores, essa pessoa chata que sempre quer estar certa, que sempre tem que ter razão é o primeiro candidato a, na velhice, começar a se tornar uma pessoa totalmente esquecida, desequilibrada, perturbada e envelhece, mas não amadurece e aí acaba se tornando um estorvo.

Diferente daquela pessoa que ao envelhecer está amadurecendo, aprendendo, se tornando sábio que ajuda o mais jovem a entender que tudo passa na vida, que o importante é você viver a sua verdade, essa pessoa é como vinho que “quanto mais velho, melhor”, que você quer perto, essa pessoa fez da vida o seu mestre, aprendeu com a vida e faz de si mestre de si mesmo, então está no campo do conhecimento do nosso Pai Oxóssi e da nossa Mãe Obá.

 “Akirô Obá yê, salve o seu conhecimento, senhora da terra”.

Que Oxóssi e Obá nos abençoem aqui, agora e sempre.

Anna Pon


(baseado no curso de Teologia de Umbanda Sagrada, desenvolvido por Rubens Saraceni e ministrado por Alexandre Cumino)