LINHA E ARQUÉTIPO DOS CABOCLOS
Ditado por Sr. Caboclo Tupinambá
(este texto é parte do material teórico de apoio ao curso on-line ARQUÉTIPOS DA UMBANDA)
Num tempo distante, milenar, habitou nas terras sagradas deste Brasil exuberante um povo até hoje mal compreendido, interpretado pela vã concepção daqueles que aportaram nesta terra com o único interesse de consumir e apoderar-se da riqueza natural até então existente tão bem tratada por milênios pelo povo anônimo que era parte da fauna e da flora, que não se dissociava do meio que vivia, pois entendia que era parte do todo e sendo assim devia reverências e preservação.
Este povo colhia somente o necessário para o alimento, caçava para o alimento e também era caçado na forma de alimento, um ecossistema perfeito, natural.
Dotados de inteligência, pois esta é a condição humana, ainda que se movimentassem mais pela intuição e instinto, sabiam pela razão que não poderiam esgotar a vida por onde passassem, sendo assim quando uma clareira abrigava uma tribo e num determinado momento a vida ao redor se apresentava escassa, por respeito levantava-se acampamento para habitar em nova região permitindo que a natureza ali pudesse se recompor, desta forma não agrediam sua terra, sagrada.
“Gigante pela própria natureza…” esta sagrada terra outrora imponente nos fazia pensar que jamais se esgotaria e veja você…
Este povo que por mérito e benção Divina que aqui habitou são os índios, que foram extraídos de sua natureza, até a alma perdeu, assim ditou senhores da fé, disseram que nós não éramos dotados de alma e fincando a primeira espada a beira-mar, aliás chamavam esta espada de Cruz, de fato seu formato era uma cruz, mas saibam, era uma espada, pois quando fincada nesta terra, dela verteu sangue e como uma fonte inesgotável, observe, até hoje os poros desta terra expelem e absorvem sangue…
Mas isto é outra história!
Quero dizer que índio não era uma raça espiritual a parte, seres estranhos á natureza humana, posso dizer que uma condição humana, ou melhor, um privilégio para aqueles que na sua existência errou, mas também acertou muito e alcançando um “bônus” divino pôde nascer em uma tribo indígena, que existiu por todo o planeta, pois índio é o nativo, aquele que brotou da terra como qualquer outra árvore, sua origem no plano físico ainda é velado, então entenda que brotavam da terra e por isso sentiam-se parte dela.
O índio era aquele espírito que já havia saído do ciclo de vícios emocionais, como vingança, ódio, sexo, vaidade, orgulho, avareza, etc., o humano que encarnou como índio tinha a oportunidade de viver a vida plena integrando-se á natureza, percebendo numa árvore a presença divina, numa folha parte de uma Divindade, na água o néctar Divino, nos animais seus irmãos e no ar sua essência, uma simbiose perfeita e necessária para completar o ciclo da razão humana. Poucos que como índios tiveram a oportunidade de encarnar, voltaram à carne, era como a última passagem, para dali continuar a evolução em outros planos.
Pequenos homens que por estarem tão distante desta plenitude exterminaram o que não era espelho, está aí o mal do homem moderno, o mal de narciso que estranha e repudia tudo o que não é espelho.
Amamos a natureza, do Criador ao inseto mais “insignificante”. Somos Um.
Então fomos vilipendiados, usurpados e escravizados, como disse até a alma perdemos, pregava-se que índio não ia pro céu, que ironia…Olha nós aqui, do “céu” falando a vocês.
Mas nada disso fez com que perdêssemos o que por milênios cultivamos, o espírito não se manchou e não fomos pegos pelos sentimentos trevosos que poderia fazer com que tudo o que se tinha cultivado fosse jogado trevas abaixo. Acaso você já viu em um trabalho de desobsessão um índio perturbando um encarnado, acaso registrou um caso de índio nas Trevas ou índio algum que se perdeu no “mundo dos mortos”?
Fomos dizimados e nossa existência sendo abafada, foi quando surgiu no plano astral um movimento conhecido como Corrente Umbanda Astral, este movimento anunciava a oportunidade para aqueles índios do planeta que já desencarnados e impossibilitados de prosseguirem com sua dinâmica de desenvolvimento humano e espiritual pudessem ter um campo de atuação, isso tudo é mais complexo e não cabe neste momento.
Importante é que fomos convocados, não restou um e começamos a nos preparar para trabalhar em benefício dos encarnados, ainda sob o véu de outras religiões, pois não tínhamos um campo religioso próprio para nos manifestar. Mas isso pouco importava, pois os caminhos da fé sempre convergem ao mesmo destino.
Este movimento nos assentou num grau evolutivo e denominou como Caboclo, que de nada tem a ver com as miscigenações de raças. Caboclo é um grau e também uma linha de trabalhadores espirituais que no início da criação do grau era composto na sua totalidade por índios não só brasileiros, mas de todo o planeta. Séculos se passaram e outros espíritos que não tiveram a oportunidade de encarnar como índios atingiram este grau e aqui estão.
Noutro momento tivemos a ordem superior de instituir no plano físico uma porta religiosa própria e assim nasce a Umbanda, a religião que une as raças, reporta-se aos melhores costumes e manifesta a cultura original de tantos povos originais que a compõe.
Aqui falei de uma linha, os Caboclos, os Índios.
Assino esta carta com meu nome de tribo que de tão abrangente pôde manter-se como linha de trabalho sem precisar recorrer aos nomes simbólicos, ainda que em si recolha todo um mistério e manifestação Divina.
Minhas reverências ao Brasil natural, ao povo que aqui evoluiu!
Sou índio, sou caboclo, sou Tupinambá!
Nota do Médium: Lendo esta carta do Sr. Caboclo Tupinambá, me veio ressonante as palavras do Sr. Caboclo das Sete Encruzilhadas na ocasião da fundação da Umbanda: “Fui padre, meu nome era Gabriel Malagrida, acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da inquisição por haver previsto o terremoto que destruiu Lisboa em 1755. Mas em minha última existência física Deus concedeu-me o privilégio de nascer como um caboclo brasileiro.”
Nesta fala ele ressalta que ser índio foi um privilégio.
Historicamente podemos perceber como a sociedade indígena sempre esteve a frente de nosso tempo no quesito moral e cidadania, a ideia de respeito e amor ao próximo era nato.
Quando uma índia ficava viúva, outro índio mesmo casado a recolhia e assumia o papel de marido, para que esta não ficasse sem o amparo de um homem. E tudo era normal. Não existia pecado.
O corpo não representava sensualidade, por isso a nudez era normal. O sexo era uma ferramenta de reprodução e prazer ao casal.
Pensando nisso tudo vejo que os índios jamais precisaram ser catequizados, pois eram naturalmente cristãos, pois tudo o que Cristo tentou pregar, os índios praticavam, só aqueles que pregavam que não haviam entendido a lição do Cristo.
Instituto Cultural Aruanda - Rodrigo Queiroz -
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