quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Os caboclinhos e as caboclinhas da Umbanda


Na Umbanda Sagrada temos a Linha de Ibeji, comandada por São Cosme e São Damião - data comemorativa em 26/09 no Catolicismo e 27/09 na Umbanda. Nessa Linha atuam Entidades Infantis, que desencarnaram ainda crianças em sua última passagem terrena. Porém, além da "Ibeijada" que atua nos Terreiros e da famosa Festa de São Cosme e São Damião, existem "Caboclos e Caboclas" infantis que atuam nas demais Linhas.
Qual a diferença de um Ibeji para um Caboclinho? A diferença está na idade, na maneira que sua última vida foi conduzida e na forma como ele desencarnou. Normalmente os Erês possuem até sete anos e os Caboclinhos ou Caboclinhas possuem um pouquinho mais de idade ou são adolescentes. Aqui podemos citar o trabalho dos Exus Mirins e das Pombagiras Mirins. Na Linha das Almas (ou Pretos-velhos) não vemos a atuação de crianças porque, apesar de termos um Ibeji escravo, ele atua em outra Linha...
Na Linha de Oxalá podemos citar: Caboclinho Estrelinha, Caboclinho Raio de Sol, Caboclinho Luz do Luar, Caboclinho de Jesus, Caboclinho Luzeirinho, Caboclinho Lamparininha ou  Lampadinha, Caboclinha Mariana, Caboclinha Coraçãozinho, Caboclinho Sete Velas, etc...
Na Linha de Xangô: Caboclinho Pedreirinha, Cachoeirinha, Machadinha, Trovãozinho, Foguinho, Caboclinha das Pedras, Caboclinho ou Caboclinha do Deserto, Caboclinha das Cavernas, etc...
Na Linha de Ogun: Caboclinho Espadinha, Estradinha, Cavaleirinho, Boideirinho, Caçadorzinho, Caboclinho Sentinela e outros.
Na Linha de Oxóssi: Caboclinho Folhinha, Sementinha, Flechinha ou Peninha (Verde, Azul, Amarela, etc), ou usando nomes indígenas, como: Coeté, Airumã, Airy, Ajira, entre outros...
Na Linha de Iemanjá: Caboclinha das Ondas, Caboclinha Pérola, Caboclinha Sereiazinha, Jandirinha, Conchinha, Caboclinho das Marés, Caboclinho Pescador, etc. 
Na Linha de Oxum: Caboclinha Cachoeirinha, Caboclinha Florzinha, Caboclinha Gota d'Água, Caboclinho Cascatinha, Caboclinho das Nascentes, Caboclinho da Chuva, Caboclinha Dourada e outros.
Na Linha de Yansã: Caboclinho Furacãozinho, Caboclinho Raiozinho, Caboclinho dos Ventos, Caboclinha Pimentinha, Caboclinha da Fogueira, Caboclinha Juremeira, Jureminha, etc.
Em outras Falanges, temos: Capoeirinha, Cangaceirinho, Baianinho, Ciganinhos e Ciganinhas, etc. Assim como qualquer Entidade que trabalha na Umbanda, cada um deles possui suas histórias e suas particularidades para nos contar, sobre sua última passagem terrena.

Boiadeiro "Zé do Laço


Um bandeirante tropeiro.

José Aparecido nasceu em Sorocaba-SP e moleque ainda já acompanhava seu pai na lida como bandeirante a serviço dos portugueses. Ele era um mameluco. Seu pai era português e sua mãe uma índia tupinambá a serviço dos brancos. Quando José tornou-se adulto, seu pai o levou para as campinas do Rio Grande do Sul; era o ano de 1780 e os portugueses já haviam dominado quase todo o sul do país.
José ouviu falar da guerra que ocorreu entre índios e brancos e da matança desmedida e sentiu tristeza, porque parte de seu sangue era de índio. Ao ver os pampas gaúchos apaixonou-se pelas pradarias, vegetação, o gado, as construções e decidiu morar nesse local. Era uma região entre São Miguel e São Borja e havia muito gado solto devido a revolta e fuga dos índios.
José desde cedo descobriu que era bom no laço e em pegar gado arrisco; então foi apelidado de "Zé do Laço". De bandeirante Zé passou a tropeiro e de tropeiro passou a boiadeiro. Adquiriu um terrinha nas cercanias de São Borja e passou a cuidar do gado para os bandeirantes paulistas. O sul ainda era uma terra sem lei e a disputa entre espanhóis e portugueses ainda era visível. Por isso, Zé andava armado e cercado de jagunços. Foi nessa época que Zé conheceu a índia Potira da Aldeia São Borja das Missões e decidiu roubá-la.
Antigamente, índio se pegava no laço e laçar era o que Zé fazia melhor. Então ele "laçou" Potira e a levou para seu sítio, mas isso desencadeou uma pequena revolta e uma lutou se travou entre os jagunços e os irmãos de Potira. Os dois lados perderam pois morreram homens de ambas as partes. Zé quedou em combate atingido no peito. Mas, ainda conseguiu dizer a Potira: - Eu também sou índio!
Potira voltou ao acampamento, mas carregava em seu ventre uma criança gaúcha. O filho de Potira cresceu catequizado pelos Jesuítas e mais tarde lutou na Revolução Farroupilha. Zé do Laço tornou-se boiadeiro espiritual e passou a trabalhar em Aruanda.

XOROQUÊ


Exu ou Ogun?

Esse trabalhador cultuado no Candomblé e na Umbanda, desperta curiosidade em alguns e temor em outros, pois ele é cheio de mistérios! Ele é muitíssimo venerado na Nação Jeje, onde ocupa um lugar especial. Na Umbanda ainda existem algumas discriminações pelo desconhecimento de seu arquétipo e pelas incoerências sobre sua personalidade.
Então, o que vem a ser um Xoroquê? Ele é uma entidade "metá", meio a meio. Parte de seu trabalho ele realiza como Ogun e parte como Exu. Ou seja, ele pode se locomover nos dois mundos - na direita e na esquerda - sem se macular ou perder sua fortaleza. Quem possui um Xoroquê em sua casa, possui um trabalhador dedicado, conhecedor dos mistérios profundos e detentor de grande sabedoria.
Está enganado quem pensa que Xoroquê é uma entidade negativa ou mundana. Ele representa o fogo e a terra juntos, como a lava ao ser expelida por um vulcão, que queima tudo o que toca. Assim, Xoroquê, com sua força de transmutação, dissolve o mal e transforma as energias mais densas em energias sutis de regeneração. Sua missão é magnânima, como o magma do interior da Terra!

Xamã Vermelho - Red Shaman - Pupa Shaman


"Pupa" realiza seu trabalho nas Falanges Orientais de Cura em toda a Umbanda Sagrada, sob as ordens das Linhas de Iansã e Xangô. Ele nasceu nas Planícies Geladas, que ficam próximo às Montanhas Rochosas ao dos Estados Unidos, entre os estados de Montana e Wyoming. Ele pertencia ao Povo Cree, da Tribo Assiniboine (Ojíbua).
Ele conta que, desde a última grande Era Glacial, muitos povos começaram a habitar as Montanhas Rochosas, como os: apache, arapaho, crow, cheyenne, sioux, ute, kutenai, entre outros. Eles viviam nas planícies durante as estações do outono e inverno, onde caçavam bisões (búfalos-americanos). E nas estações mais quentes (primavera e verão), viviam entre as Montanhas onde pescavam peixes, caçavam alces e colhiam raízes e frutos.
Por causa da Guerra do Ouro, as histórias dos estados de Oregon, de Wyoming, de Montana e de Idaho se confundem. A palavra "Wyoming" na língua indígena significa Terra de Vastas Planícies e "Montana" deriva de Montanha mesmo. Oregon deriva de uma frase: "Caminho do Ouro" - para a qual não há tradução literal: ore go on (minério de continuar). Idaho possui um cognome: Gem State - "Estado da Jóia.
Mas, voltando a história de Pupa... Ele viveu entre os séculos XVII e XVIII, quando o homem branco tentava conquistar o território norte-americano. Os nativos das Montanhas Rochosas ainda estavam protegidos pela região desconhecida e pouco desbravada. Mas, quando os brancos começaram a chegar, pareciam "possuídos" por espíritos maus, pois seu único intuito era matar e conquistar.
Por conta de tanto ódio e sede de conquista por parte dos europeus, os nativos escondiam-se cada vez mais entre as montanhas e o frio. Pupa havia sido preparado desde adolescente para sua tarefa de líder religioso da tribo, então sabia realizar todas as curas necessárias para seu povo. Todos o respeitavam por seus ensinamentos. Ele aconselhou sua tribo a manter-se escondida nas montanhas e evitar o confronto com o branco. Disse que o homem branco já trazia o ódio dentro de si.
Quando Pupa estava idoso e preparava-se para deixar o mundo dos vivos, chamou seu sucessor e disse-lhe: "Prepara-te para a grande mudança da terra. O homem branco a tudo transformará e nossa nação nunca mais será a mesma. Preserva nossa gente e nossos costumes, para que o Grande Espírito mantenha nossos descendentes sobre essa terra."

Chefe Manitoba


Um Cacique que tentou preservar sua raça.

A palavra Manitoba vem das palavras algonquinas "manito" e "waba" que significam, respectivamente: Grande Espírito e estreito. Os nativos americanos que viviam na região do Lago Winnipeg, acreditavam que os sons vindos do vale estreito próximo ao Lago, eram emitidos por "Grandes Espíritos" antigos. Mas, atualmente, sabem-se que são ecos.
Toda a região de Manitoba é abundante em rios e lagos. É uma das dez províncias do Canadá, coberta por enormes planícies com solo próprio para agricultura. A região também possui muitas áreas florestais e depósitos de cobre, zinco e níquel.
Durante o século XIX, Ingleses e Franceses disputaram a posse de terras do Canadá. Manitoba fez parte inicialmente de um gigantesco território conhecido como "Terra de Rupert", administrada pela Companhia Inglesa da Baía de Hudson. Mas, algumas regiões de Manitoba também foram colonizadas pelos Franceses.
Em 15 de maio de 1870, após a Rebelião de Red River (Rio Vermelho), o governo Canadense elevou a região sul do atual Manitoba à categoria de Província - isso equivalia a apenas 5,6% de seu tamanho atual. Sua extensão territorial cresceu gradualmente até 1912.
Foi nesse cenário que o Cacique Manitoba viu sua terras e tribos serem dizimadas e aos poucos colonizadas pelo homem estrangeiro. Ele viveu 112 anos sobre as Terras Canadenses e pode ver muita coisa com seus próprios olhos.
O Rio Vermelho tornou-se Rio de Sangue muitas vezes, pelas mortes que assistiu e pelos corpos que recebeu em seu leito. As terras de Manitoba presenciaram muitas transformações. Mesmo assim, o Cacique tentou manter a cultura e a tradição de seu povo intactos após a colonização.
Foi difícil... Nessa época, ele sentiu-se "pequeno", como o estreito do Lago Winnipeg; porém, em outros momentos, sentia a força do "Grande Espírito" a lhe sustentar. E assim, aguentou o quanto pode para preservar seu povo e sua raça.
Antes de exalar o último suspiro fez um pedido a seu neto Kanna Kanna (Dois Caminhos): "Meu filho, não deixe morrer nossa tradição ou nossos costumes. Preserve-os a todo custo, para que um dia o homem branco possa conhecer a sua origem..."
Hoje em dia, Ele trabalha como Mensageiro Espiritual na Falange do Povo do Oriente, sob o comando de Xangô. Ele exerce maior domínio quando atua na Linha de Oxalá e na Linha das Águas, ao harmonizar e fluidificar o ambiente.

Cacique Cobra Preta


O Mensageiro de Omulu...

Esse Caboclo, que atua na Linha das Almas, foi um Inca que viveu no século XV, na região onde hoje se encontra a cidade de Lima no Peru. O Império Inca era dividido em quatro partes, chamados Suyus. Ele pertencia ao Império Chinchaisuyo, localizado ao Norte. E ainda haviam os Suyus: Kollasuyu, Antisuyu e Kuntinsuyu. Cada Suyu era comandado por um governador, o Tukriquq (ou Apus). Os Suyus se dividiam em regiões (aldeias), que eram comandadas pelos "Kurakas" - uma espécie de Cacique - que se dirigia ao Tukriquq. O Império Inca (chamado na época de Tawantisuyu) era governado por Pachukuti, imperador Inca, que inicou a expansão do Reino e sua divisão em suyus. O governo se concentrava no Templo do Sol (Koricancha) na cidade de Cuzco, considerada a capital do Império e o umbigo do Império Inca. 
Alchuapa, esse era seu nome, pertencia ao Clã das Serpentes Negras e como todo iniciado em xamanismo, mantinha contato com toda espécie de animais peçonhentos durante a iniciação. Podia ficar dias sem comer ou beber e mesmo assim sobreviver incólume. Sua força estava em contactar as cobras negras da região: muçuranas, caninanas e sucuris escuras. Elas se enrodilhavam em seu corpo enquanto entrava em transe, depois de beber o preparado de ervas do ritual xamânico. Ele assumiu como Kuraka uma das aldeias do Suyu norte, após terminar sua formação como xamã e governou até o ínicio do século XVI, quando os espanhóis iniciaram sua invasão. Então, muitas batalhas foram travadas, muitos Apus foram mortos e Alchuapa terminou sua jornada como inca nesta terra.
Alchuapa peregrinou como espírito por toda a América do Sul e viu muitas tribos diferentes e muitos homens de outras nações. Assistiu muitas batalhas e muitas mortes. Muitas transformações aconteceram em suas terras. Quando ele viu o negro chegar ao Brasil para ser escravizado, admirou sua cor de pele, pois era negra como as serpentes que ele conhecia. Alchuapa acompanhou a tudo como espírito e percebeu a força dessa raça, parecida com a sua em determinação. Foi nesse momento que um Ser muito iluminado e de aspecto bondoso se aproximou dele e lhe ofereceu amparo. Alchuapa pensou se tratar de um de seus deuses da tradição Inca, mas o ser lhe disse que veio de outra terra, chamada África.
Alchuapa perguntou quem era ele e o que ele comandava e Ele respondeu:
" - Eu sou o Senhor da Morte! Chamam-me de Omulu!"
- O que o senhor faz nesta terra?
" - Trago uma nova crença ao homem e conforto aos filhos da Terra. Venho com outros como eu e nos chamam de Orixás."
- O senhor também exige sacrifícios?
" - Não, meu filho, apenas recolho as almas e encaminho a uma nova morada..."
- E que morada é essa?
"-É Aruanda, meu filho!"
- Existem outros como o senhor?
" - Existem... E há um que é o maior entre todos e que ensina o amor ao próximo. Seu nome é Oxalá e Ele atua na vibração do amor do Criador de Tudo Aquilo que existe. Eu trabalho para Ele. Venha trabalhar comigo meu filho e eu te ensinarei tudo isso..."
Alchuapa pensou por um momento... Seu espírito estava cansado de peregrinar e ele queria encontrar um caminho que lhe ajudasse a compreender tudo o que lhe havia acontecido. Então respondeu: Sim, eu irei... E foi assim que Alchuapa iniciou sua jornada espiritual como "Cacique Cobra Preta".
 

Caboclo Serra do Mar


Um Cacique, um Pajé, um Xamã...

Como já escrevemos, nós não publicamos histórias que já existem em outros blogs ou sites, pois nossa intenção não é concorrer. Também, aqui queremos esclarecer que, quando escrevemos as histórias é a pedido das Entidades que nos procuram e usamos a clariaudiência, a clarividência e a psicografia para isso. Em momento algum, dissemos que estas histórias pertencem unicamente àquela Entidade, ou que aquela Entidade é única. Por mais que existam diversas Entidades atuando em uma mesma Falange, elas possuirão os mesmos aspectos e semelhanças durante sua apresentação. Nossa intenção é apenas elucidar as características de cada Entidade junto ao médium; pois, mesmo que suas histórias de vida sejam diferentes, a aparência e a postura serão sempre a mesma.
 
Sobre esse Caboclo, em especial, ele nos contou que viveu à Beira-Mar de Serra Leoa, na África. A região é considerada uma região de muitas riquezas minerais, vegetais e animais. Durante séculos, sua tribo vivia em perfeita paz, ordem e harmonia, mas isso foi modificado com a chegada do homem branco e do comércio de escravos e pedras preciosas. Ele era um nativo da tribo dos Temnese viviam nos vales próximos a praia. Eles ornamentavam-se com as pedras coloridas que encontravam, sem saber de seu valor comercial. Também usavam peles de animais e outros enfeites no corpo. Em sua tribo era costume desenhar na pele com espinho e depois passar carvão aquecido na água com chá de noz de cola (Obi). Assim eles tatuavam-se usando uma técnica diferente dos Maoris.
Após a chegada dos brancos em sua região, eles foram obrigados a trabalhar para eles, recolhendo pedras preciosas e trocando pela vida de sua gente. Assim, conseguiram, durante muito tempo, manterem-se afastados da escravidão, sem serem "vendidos". Como sabiam da localização exata dos minérios especiais e das pedras preciosas, eram poupados. Porém, certa vez, quando o homem branco estava afastado de sua Tribo, eles decidiram lutar por sua liberdade e armaram uma estratégia de guerra. Sua tribo apesar de numerosa não possuía armas sofisticadas para a luta. Então, quando o homem branco chegou eles começaram sua luta. Não é preciso dizer que muitos morreram e foi um massacre, pois lanças e flechas nada podiam contra armas de fogo. Ele desencarnou nessa luta junto com quase toda a sua gente. Quem não morreu lutando, foi vendido como escravo. E assim, acabou seu povo e sua vida.
Hoje, sua paz de espírito está em ajudar a todos que lhe procuram, com palavras de ânimo, sabedoria e tranquilidade. Ele entendeu que a vida é só uma escola e uma passagem e que aqui tudo não passa de uma aprendizagem. "A verdadeira vida é aquela que desfrutamos após nossa morte, pois é onde nosso espírito apresenta-se verdadeiramente como é..."

Cacique Aimoré e Cacique Tupinambá


E a história de suas vidas...

Após a chegada dos portugueses ao Brasil, outras etnias quiseram disputar espaço, como os franceses e os espanhóis. E isso gerou muitas revoltas no litoral de toda a extensão do território brasileiro. Houveram muitas guerras, como a de Paraguaçu, no Recôncavo Baiano; o extermínio dos Potiguaras, no Rio Grande do Norte; entre outras que nem são relatadas pela história, pois foram esquecidas. Mas, aqui quero falar da bravura de dois caciques: Tupinambá e Aimoré; e relatar a sua visão da história.
Uma das guerras mais importantes, disputadas pela aliança entre índios e brancos, para preservar seu território dos invasores foi a Confederação dos Tamoios. Para os índios, pior do que perder suas terras para um estranho, era perdê-la para muitos estranhos! Por isso, mesmo vendo o tamanho do inimigo que se aproximava à beira-mar, entre 1563 e 1567, os índios Tupinambá (do Rio de Janeiro), os Carijós (do Planalto Paulista), os Aimoré (da Serra do Mar) e os Goitacá (também da Serra do Mar), fizeram a Aliança com o homem branco e criaram a Confederação dos Tamoios. Mas, nos dois lados da disputa haviam índios e brancos e, nos dois lados, a história não era verdadeiramente narrada aos de "pele vermelha" (pele que o sol queimou).
Os Tamoios venceram muitas batalhas e eles nem sabiam porque lutavam, pois o homem branco apenas fez uso de sua força. O índio foi enganado e usado por "Brancos Reformadores" (os Conquistadores) e por "Brancos Pacificadores" (os Jesuítas). De qualquer forma, o índio perdeu, pois milhares de vidas foram dizimadas; dezenas de tribos desapareceram e muitos índios fugiram e se embrenharam nas matas densas. Essa foi a história da Reforma e da Contra-Reforma - era o destino da Colonização, da Coroa contra a Igreja, de uma nação contra outra e da qual o índio participou sem saber porque lutava. As Tropas Indígenas dos Tamoios foram vencidos pelos Jesuítas e aqueles que não fugiram, tornaram-se servos do homem branco. E aqui iniciou-se uma nova história para o Brasil...
O Cacique Tupinambá e o Cacique Aimoré eram amigos, suas Tribos eram vizinhas e dividiam os mesmos costumes, as mesmas tarefas e a mesma língua. Os habitantes das duas tribos eram amigos e podiam se auxiliar. Durante séculos puderam viver em paz e tranquilidade. As guerras eram somente com os índios Guaikurus, quando esses tentavam invadir seu território. Os índios das diversas etnias, que habitavam as Américas, eram altos, fortes, destemidos e nobres. Sabiam progredir sem ameaçar a natureza, viviam em aldeias bem organizadas. Mas, a interferência do branco e a mistura das raças fez o índio perder sua origem e seu verdadeiro código de valor.
Quando a Guerra que dizimou as tribos Tupinambá e Aimoré aconteceu, os Caciques deram suas vidas para evitar a extinção total de suas raças. Ao final da batalha perceberam que haviam sido enganados pelo homem branco e ajudaram alguns índios a fugir para preservar a raça e a verdade de sua história. Aqueles que se salvaram foram o mais longe que puderam e até hoje não se sabe mais onde os encontrar...
Cacique Aimoré e Cacique Tupinambá choraram a perda dos seus, pelo massacre que aconteceu. Não importava o lado da batalha: todos perderam. Eles partiram para a morada de Mboi para aguardar o chamamento de Tupã. Quando lhes falaram de uma Terra semelhante a deles onde poderiam trabalhar suas origens eles aceitaram a tarefa. Foi assim que se dirigiram a Jurema e ajudaram a Aruanda no trabalho de propagação da nova religião de amor e união de todas as raças: a Umbanda! Aceitaram comandar as falanges que receberiam seus nomes e trabalhar com os índios desencarnados nas batalhas à beira-mar.
E aqui teve início uma nova história de refazimento do solo brasileiro pelos nativos de pele vermelha. Agora eles poderiam trabalhar com seus irmãos brasileiros, sem o preconceito pela cor de sua pele e pelas suas origens, pois hoje eles são aceitos como são: apenas índios! E essa é a AUMBANDHÃ!
 
 

Caboclo Sete Conchas


Um antigo habitante da Ilha de Marajó!

Esse Caboclo manifestou-se algumas vezes em nossa seara. Disse que é um Protetor, que trabalha na Linha das Águas de Mamãe Iemanjá. Seu trabalho é coordenar as limpezas e purificações energéticas nos filhos da Corrente Mediúnica da Casa ou nos assistentes.
Ele era um índio Aruak, da Tribo Aruã e viveu na Ilha de Marajó, hoje estado do Pará, no primeiro século do Brasil Colônia, entre os anos de 1500 a 1600. Sua tribo representa o fim de uma civilização de nobres artesãos - a quarta fase. A tribo já estava entrando em extinção, quando os portugueses chegaram a ilha.
Viviam principalmente da pesca. Faziam artesanatos, cultivavam tubérculos e criavam alguns animais. Evitavam ir ao continente, pois ouviram falar de uma tribo cruel vinda da Venezuela (os Karib), que se apossavam das mulheres e dos pertences de outras tribos.
Os Aruak sempre foram pacíficos. Evitavam a discórdia e resolviam tudo com diálogo. Por isso eram facilmente atacados. Sua proteção estava, justamente em ficar o mais longe possível do continente. A ilha, para eles, era seu refúgio.
Nessa vida, disse ele, aprendeu o amor ao próximo, o respeito a natureza e a viver pacificamente... E é isso que ele transmite aos médiuns enquanto atua nos trabalhos.

Caboclo Cobra Amarela


Um índio pantaneiro.

Esse índio nasceu na margem esquerda do Rio Paraguai, onde hoje se localiza a cidade de Cáceres, no estado de Mato Grosso. Ele era um índio forte e destemido da tribo dos Paiaguá. Seu nome indígena era Membira M'Boi (Filho do Deus Serpente), pois ele conseguia ficar submerso na água por longos minutos. Escondia-se nos arbustos e folhagens sem ser visto e atacava sorrateiramente, como uma cobra. Adorava brincar com todas as cobras da região, principalmente com a "Cobra Amarela" (Bothriechis Schlegelii).
Os Paiaguás uniam-se aos índios Guaikurus nas batalhas contra os invasores, alcançando a vitória nas lutas. Eles entendiam de montaria e estratégias de guerra, por isso, eram exímios guerreiros. Manejavam o arco e a flecha com destreza. Eram hábeis navegadores, sabiam mergulhar e, praticamente, viviam sobre as águas. Eles tornaram-se conhecidos como "índios canoeiros". Eram nômades, deslocavam-se com rapidez e possuíam muitas aldeias, com rota de fuga dentro da floresta.
Sua tribo possuía um código de honra que os impedia de recuar em uma batalha. Por isso, junto aos Guaikurus, lutaram contra os portugueses, oferecendo grande resistência à povoação do Pantanal mato-grossense. O Mato Grosso foi povoado por terra, através da Rota Madeira Guaporé, pois, pela água, os índios ainda dominavam. Somente em 1791, um Tratado de Paz conseguiu apaziguá-los e declará-los súditos da coroa portuguesa. Então, chamou-se "Guaikuru" todos os indígenas do Pantanal que compartilhavam a mesma língua nativa.
Membira M'Boi morreu lutando por sua terra e por sua gente, no começo do século XVIII. Soldados fortemente armados devastaram a maior parte das aldeias Paiaguá, em busca de ouro e pedras preciosas. Assim, ele concluiu sua jornada terrena e inicou sua jornada espiritual. Segundo esse caboclo, que já viveu na Austrália e na Europa, em vidas anteriores, sua maior aprendizagem ocorreu no Brasil, onde aprendeu a respeitar a natureza e a vida. Hoje, ao trabalhar na Umbanda, Membira M'Boi atende pelo nome de Caboclo Cobra Amarela; ele trabalha para as Mães d'Água e para Oxumaré.

Urubatão da Guia


Salve o Cacique Guerreiro!

Esse índio viveu e comandou uma das Tribos Sioux, em Dakota do Norte, nos Estados Unidos, no século XVII. Os Sioux ou Lakotas eram excelentes caçadores, coletores e guerreiros. Suas táticas de luta eram temidas pelos inimigos. Durante a colonização pelo homem branco, resistiram o quanto puderam na conquista de seus territórios.
Seu nome era Tatanka Eitanka (que quer dizer "Grande Búfalo" na língua indígena), ele foi o tataravô de Tatanka Yotanka ("Búfalo Sentado"). Tatanka prevenia seu povo sobre a chegada de um homem de pele clara, que devastaria as riquezas das terras e dominaria seu povo. Isso aconteceu quase dois séculos depois, quando um dos maiores genocídios indígenas da história manchou de sangue o território americano.
Esse nobre e corajoso guerreiro ensinou seu povo a lutar, a resisitir e a crescer. Seus costumes eram respeitados pelas tribos vizinhas. Tatanka Eitanka morreu uma morte natural, mas seu espírito ficou no solo americano para ver suas profecias se concretizarem. Quando muitos índios quedaram ao chão no maior massacre americano, Tatanka estava lá para recolhê-los e levá-los consigo ao Reino do Grande Espírito.
Ele tornou-se um guia para os espíritos desencarnados. Os índios diziam que ele parecia o urubá (Marantácea - Maranta uruba), a planta que mais crescia nas florestas e era muito usada para forrar o chão antes de se deitar. Mas, outros índios, diziam que ele parecia a ubatã (Anacardiácea - Gonçalo-Alves), uma árvore dura e resistente, da qual se fabricavam canoas. Outros diziam que ele era como o urubá, mas resisitente como a ubatã. Então, diziam Urubá Ubatã é nosso Guia! Assim, sua lenda cresceu e sua história ficou perdida no tempo. Urubá Ubatã da Guia é hoje Urubatão da Guia, servo fiel de nosso amado Pai Oxalá.

Caboclo Arariboia


Um Comanche amigo dos animais!

Essa é a história de um nativo americano que nasceu na região onde hoje se localiza o estado de Oklahoma, na Tribo dos Comanches. Desde cedo perceberam que ele possuía o dom para falar com os animais e para entender a linguagem da natureza, por isso lhe deram o nome de Índio Andante, pois perceberam que ele era uma criança bastante inquieta e esperta.
Os comanches eram um povo originário dos Astecas e falavam a língua derivada desse povo. Sabiam domesticar cavalos e isso os fez crescer e conquistar outros territórios. Eram exímios coletores e caçadores. E aprendiam rapidamente outros costumes. Por isso, quando o homem branco chegou ao seu território, os Comanches tentaram uma convivência. Mas, a guerra e a ganância impediram o convívio das raças.
Índio Andante não ficou em sua tribo quando os homens começaram a alterar sua cultura. Preferiu andar pelas terras e verificar com seus próprios olhos a transformação que estava acontecendo. Andou por diversos territórios ao sul dos Estados Unidos, pela América Central e parte da América do Sul. Ao chegar à região da Amazônia, já havia conhecido diversas raças e muitas coisas diferentes. Sobreviveu devido ao seu dom de comunicação com os animais e por saber ler os sinais da natureza.
Esse índio comanche se tornou um cidadão do mundo e morreu na região onde hoje é o estado do Pará, aos sessenta anos de idade de causas naturais, cercado por seus amigos animais, pela natureza exuberante e feliz por ter vivido uma vida diferente e cheia de aventuras! Hoje, Índio Andante trabalha na Linha de Oxóssi, sob o comando e nome do Caboclo Arariboia e sente-se satisfeito por compartilhar com seus filhos os conhecimento sobre a natureza, o amor à vida e aos animais.

Caboclo Ventania


"Aquele que corre como o vento!"

O Caboclo que nos contou essa história viveu no sul do Brasil, entre os anos de 1623 e 1700 em uma das Aldeias dos Sete Povos das Missões. As vilas que foram construídas pelos jesuítas espanhóis tinham a intenção de catequizar os índios. A disputa entre os portugueses e os espanhóis pelo sul das Américas dizimou muitos índios. E depois, muitos bandeirantes paulistas, infiltraram-se nas terras gaúchas buscando suas riquezas e expulsando índios e jesuítas.
Esse índio guarani possuía a habilidade de se locomover com destreza entre as planícies geladas do sul e podia ir rapidamente de uma vila a outra. Os jesuítas lhe davam a missão de levar mensagens e conduzir em segurança aqueles que trabalhavam nas vilas. Ele era um excelente coletor, caçador e condutor e, por isso lhe chamavam: APUAMA (aquele que não para em casa; aquele que é veloz). Ele dedicou sua vida a servir seus irmãos e após sua morte tornou-se mais um trabalhador do Reino da Jurema, passando a atuar nas Linhas de Iansã e Ogun, sob a égide do nome "Ventania"!

Os Caboclos de Ogun


Ogun na Umbanda é festejado em 23 de abril, dia de São Jorge Guerreiro, santo com o qual é sincretizado. Na Bahia seu sincretismo muda para Santo Antônio, comemorado em 13 de junho. Ogun é o grande estandarte da Umbanda, é o defensor dos terreiros e dos filhos de fé. Ele é o grande soldado de Oxalá! Ogun representa a força do soldado disciplinado que atua em batalha e luta para defender seu reino. Todo caboclo de Ogun já foi, em outrora, um combatente e, por isso, conhece as estratégias e as artimanhas de um campo de guerrilhas. Assim, um Caboclo de Ogun poderia ser chamado de "Cavaleiro de Ogun".
Toda entidade possui uma vibração, uma Linha de atuação e uma forma de apresentação. Uma entidade que atua na vibração do Orixá Ogun, quando se apresenta no terreiro possui determinados aspectos inconfundíveis, como a postura do corpo e a entonação da voz. E, como toda Linha trabalha em mais de uma vibração, temos assim o Cavaleiro de Ogun ou Caboclo de Ogun, com seu nome e título (ou atuação). Por exemplo:
- Ogun na própria Linha de Ogun pode apresentar-se com o nome de: Ogun Guerreiro, Ogun Sete Espadas, Ogun Sete Lanças, Ogun Sete Bandeiras, etc.
- Ogun vibrando na Linha de Oxalá, se apresenta com o nome de: Ogun Onirê, Ogun Matinata, Ogun Sete Estrelas, Ogun Estrela Dourada, Ogun , etc.
- Ogun na Linha das Águas apresenta-se como: Ogun Beira-Mar, Ogun Iara, Ogun Sete Ondas, Ogun Sete Marés, Ogun Sete Cachoeiras, Ogun Sete Conchas,  Ogun Sete Luas, etc.
- Ogun na Linha de Yansã pode ser: Ogun Ventania, Ogun Onira, Ogun Sete Raios, etc.
- Ogun na Linha de Xangô pode atuar como: Ogun Sete Pedreiras, Ogun Dilê, Ogun de Malê, Ogun Justiceiro, Ogun de Nagô, etc.
- Ogun na Linha de Oxóssi: Ogun Rompe-Mato, Ogun Sete Flechas, Ogun Sete Penas, Ogun Sete Folhas, Ogun da Flecha Dourada, Ogun Capangueiro, etc.
- Ogun atuando na Linha de Obaluaiê: Ogun do Cruzeiro,  Ogun Megê, Ogun das Almas, Ogun da Calunga Menor, Ogun da Porteira Sagrada, etc.
- Ogun com Exu: Ogun Sete Estradas, Ogun Xoroquê, Ogun de Ronda, Ogun Naruê, entre outros.
Também existem as Caboclas que atuam na Linha de Ogun. São elas: Jupiara, Jupiá, Jacy, Jussara, Cabocla Guerreira, Cabocla Moema, Cabocla Maria Quitéria* (não confundir com a Pombagira), etc.

* Maria Quitéria de Jesus, foi uma heroína da Guerra da Independência: http://www.brasil.gov.br/secoes/mulher/elas-fazem-a-diferenca/maria-quiteria
 
"Ogun, em seu cavalo corre, com sua espada de luz...
Ogun, Ogun Iara, sua bandeira cobre os filhos de Jesus!"

Caboclo Pedra de Fogo


Um Caboclo de Xangô Aganju...

Sua história nos foi contada por ele mesmo:
"Eu nasci e vivi em uma Aldeia na Ilha dos Maoris, próximo ao Vulcão Maior. Hoje tudo isso recebeu outro nome e transformou-se em cidade. A cultura é outra e nosso povo está quase extinto. Nós iniciamos o Culto aos Ancestrais através das Tatuagens no corpo, onde utilizávamos o martelo de madeira, uma agulha de osso e a brasa do fogo (ou a pedra de fogo, como chamávamos). Eu era o Chefe de uma dessas tribos e sentia orgulho de nossa raça, de nossa crença e de nossa natureza. Vivíamos em perfeita comunhão com tudo o que nos cercava. A Mãe Terra era benéfica e amorosa com nossos filhos, pois nada nos faltava. Contávamos os dias e o tempo, pelo sol, pela lua e pelas estrelas. Tudo ia bem até a chegada de um conquistador branco, que se tornou famoso para vocês. A história dele é contada em livros e estudada nas escolas... Mas ninguém conta o que nós passamos e o que nós vivemos nesses dias.
Nossa terra até hoje é considerada um Paraíso, então, "imaginem vocês", naquela época! Era o Jardim do Éden - como dizem na Bíblia. Éramos muito felizes e abençoados! Vivíamos em perfeita paz e harmonia. Todas as aldeais e povos se entendiam e não haviam guerras em nossa ilha. Fazíamos oferendas à Deusa Mãe Papatuanuku (nossa Natureza, nossa Terra) e ao Deus Pai Ranginui (Senhor dos Céus).  Cuidávamos de apaziguar Hiro (o Deus do Fogo, que habitava o interior da Terra), pois ele cobrava suas almas após a morte; então, cremávamos os corpos. Todos os Filhos e Filhas dos Deuses eram sagrados para nós tudo e respeitávamos seus avisos. Na natureza tudo era vivo e possuía Mana (Alma).
Com a chegada dos Conquistadores, houveram muitas guerras e muitas tribos mudaram de lado, por medo. Assim, os Paheka se distanciaram de nós, os Maoris. E as disputas foram inúmeras. Não aceitamos pacificamente a colonização e lutamos muito para não entregar nosso povo, nossa cultura e nossa natureza. Eu lutei o quanto pude para manter meu povo unido e para manter nossa crença protegida. Foram anos difíceis aqueles e estávamos sempre alertas. Eu sabia que meu tempo na Terra estava terminando, pois eu sentia o chamado de Rangi e Papa (nossos deuses). Quando a minha hora chegou, aconselhei meu filho a assumir a liderança e a manter nossa tribo unida. Pedi que cumprissem todo o ritual, pois eu queria descansar em paz e não queria perturbar Hiro. E assim fizeram...
Hoje trabalho no Plano Espiritual, com tudo aquilo que aprendi e convivi nessa minha última encarnação como Chefe Maori. Procuro passar ao meus filhos três conceitos básicos: o respeito à Natureza; o respeito ao próximo; e o respeito por si mesmo. Nós somos Templos Sagrados do Divino e precisamos cuidar de nosso templo; assim, como tudo o que nos envolve é um templo sagrado habitado por Mana. Devemos honrar e respeitar nossos Ancestrais e os mais velhos que nós, pois é deles que vêm a verdadeira sabedoria. Somos todos irmãos e iguais, feitos do mesmo material estelar e nossa luz só pode aumentar se preservarmos nossa essência primordial. Eu sou o Caboclo Pedra de Fogo, aquele que trabalha em equilíbrio com as Leis Naturais!"

Caboclo Arranca Toco


O Filho do Trovão!

Esse índio da Tribo dos Peles Vermelhas da Amazônia, os Bororos, nasceu em 1625, no meio da Mata Virgem. E, desde pequeno, sua história começou a ser escrita diferente dos demais. Ele sempre foi o mais alto e o mais forte de sua tribo. Ele crescia muito rápido e adquiria fortes músculos. Gostava de arrancar tubérculos com sua mãe e de retirar todos os tocos de árvores que encontrasse pelo caminho. Os índios sempre comentavam: "Ele é mesmo o Filho do Trovão!" E, quando ele chegava, carregado de raízes, diziam: "O Arranca-toco arrancou todos os tocos do caminho!"
Nas disputas corpo a corpo entre os índios guerreiros da tribo, ele era sempre o mais forte! E muitos temiam enfrentá-lo, pois sabiam que sairiam perdedores. Quando ele saía pela floresta para caçar, sempre trazia um javali sobre um dos ombros e um jacaré sobre o outro. Seus pais tinham muito orgulho de ter um filho tão forte! O cacique logo o nomeou o guerreiro sagrado da tribo, aquele responsável por todas as batalhas e comandante em qualquer ataque.
A índia que lhe foi prometida temia pelo seu tamanho, mas ele ajudava com delicadeza as índias de sua aldeia e era admirado por elas. Mas, ele não casou... Com idade jovem ainda foi encontrado morto nas matas sem causa ou explicação, sentado abaixo da árvore mais alta. O pajé disse que Tupã o levou de volta aos céus onde era sua morada, pois ele não pertencia ao Povo da Terra.

Caboclo Chefe das Matas


Um Encantado da Jurema!

A história desse Cacique é bastante singular, pois tornou-se uma Lenda, contada entre os índios, de geração em geração. Esse caboclo nasceu na mata Atlântica, antes da colonização dessas terras pelo homem branco. Sua tribo constituía uma aldeia numerosa, com mais de dois mil índios. Suas ocas não eram construídas no chão; eles viviam em casas elevadas e sabiam dormir nas árvores. Alimentavam-se de frutos, animais selvagens e peixes. Eram exímios caçadores e coletores. Sabiam encontrar o alimento. Locomoviam-se na mata com destreza e sagacidade. A aldeia era defendida pelos guerreiros da tribo com grande habilidade. As mulheres e crianças ficavam protegidos e trabalhavam na confecção de objetos ornamentais, de utensílios de barro e no preparo da comida.
Sua história tornou-se Lenda da seguinte maneira: ele estava sentado em sua oca, fumando seu cachimbo de ervas, quando ouviu gritos distantes na mata. Dois guerreiros já haviam desaparecido buscando o que causava esses gritos. Ele resolveu verificar por conta própria e embrenhou-se na mata densa. Voltou no mesmo dia horas depois e nada encontrou de diferente. Na manhã seguinte resolveu verificar novamente. Era costume na tribo o Chefe nunca sair desacompanhado, mas ele pediu que ninguém o acompanhasse e saiu... Voltou da mesma forma, horas depois... No terceiro dia, fez a mesma coisa e desapareceu por 7 dias. Os índios ficaram preocupados, acharam que ele havia morrido e começaram a se lamentar. No oitavo dia, o Cacique retornou, vestindo um cocar enorme na cabeça e portando vestes luminosas. Conversou com todos, instruiu os conselheiros da tribo, abraçou os indiozinhos e apaziguou as mulheres. Falou que essa terra um dia seria tomada, por homens de uma aldeia distante, diferentes no falar, no andar e no vestir. Pediu a todos que seguissem com suas rotinas, pois ainda estava tudo bem, não era hora disso tudo acontecer. Depois indicou um amigo mais jovem como Cacique. Os índios estranharam, pois um novo cacique só era escolhido com a morte do cacique mais velho. Passou para as mãos do novo cacique uma lança e um cinto de penas. Depois desapareceuperante os olhos incrédulos de todos.
A partir desse dia, todas as vezes que a coruja cantava, podiam ver um clarão nas matas e ouvir um assovio. Em seguida, por um breve momento, alguém na tribo avistava o Cacique "Chefe das Matas". Assim, passaram a contar essa história de geração em geração. Após meio século, chegou um aviso de uma aldeia vizinha, que homens diferentes chegaram de terras distantes e eles se lembraram as palavras do cacique. A partir desse momento iniciou-se outra história... Nos momentos de maior perigo ou dificuldade podiam ver o Cacique "Chefe das Matas" os observando e os aconselhando. E assim, sua lenda cresceu!

O Capangueiro da Jurema!


Bandeirante, índio, caboclo, bugre ou mameluco?

Essa é a história de um caboclo que entende de muitas coisas... Viveu em dois mundos, entre duas culturas e aprendeu os costumes dos brancos e dos índios. Era um profundo conhecedor das trilhas e sabia conduzir adequadamente uma caravana floresta adentro. Tornou-se exímio expedicionário. Trabalhou para os portugueses por quase meio século. Essa foi sua vida: viajando por quase todo o Brasil, dos litorais ao interior das matas. Ele entendia da arte de curar. Fabricava instrumentos e utilitários com o que a floresta fornecia. Era útil ao conquistador. Tornou-se requisitado e assim viveu sua vida. Com sua aparência de índio (bugre) nativo, trabalhou sem roupas por muitos anos, mas, quando mulheres se juntaram às caravanas, preferiu vestir as roupas do homem branco.
Ao desencarnar não quis mais afastar-se das florestas brasileiras, nem de seu povo, nem das dores que viu serem semeadas pelos conquistadores europeus. Sentiu-se compelido a ajudar índios e bandeirantes espiritualmente a evoluir. Quis ser mais que um simples "capangueiro" das matas, tornou-se um "Capangueiro de Aruanda". Sua sabedoria milenar em reconhecer trilhas, seu jeito peculiar de curar, sua maneira sincera de observar e falar, faz desse expedicionário mameluco uma entidade única, que serve a todos os Orixás na maior boa-vontade e dedicação.
Não sei de sua encarnação anterior, não sei seu nome verdadeiro... Sei apenas que era chamado de "Fidélis das Matas" pelos portugueses. Quando vem ao Terreiro, incorpora, gira e dança, dá seu grito de guerra e começa a trabalhar com agilidade e presteza e diz: - Eu só quero servir! E gosta de cantar seu ponto: "Arreia Capangueiro, Capangueiro da Jurema..."

Caboclo Cobra Coral


Um cacique que não temia as cobras!

Quem trabalha na Umbanda sabe que existem as falanges e que cada falange possui o seu falangeiro (ou guia espiritual). Existem inúmeras falanges e inúmeras entidades em cada falange. Bom, porque estou relatando isso? Para esclarecer que essa história que vou contar refere-se especificamente a este Caboclo Cobra Coral desta seara. E outros caboclos, também “Cobras Corais” terão suas histórias e seus relatos.
Esse Caboclo Cobra Coral, nasceu de mãe morta... Vou explicar: sua mãe estava no nono mês de gravidez e andava pelas proximidades da tribo quando foi picada por um casal de cobras corais. Ela morreu ali mesmo, mas conseguiu parir e o choro da criança se fez ouvir por toda a tribo... Acudiram e encontraram um menino esperto segurando uma cobra coral pequena nas mãos. Recebeu então seu nome de batismo e cresceu brincando com cobras e animais peçonhentos, sem temê-los.
O caboclo tornou-se um grande guerreiro e um grande líder para sua tribo, mas era temido por todos os demais, pois acreditavam que seu sangue possuía veneno de cobra e que podia infectar flechas e, assim, matar seus oponentes. Ele viveu muitos anos e reinou com sabedoria sobre sua tribo. Morreu idoso de causas naturais, cercado pelo respeito da tribo. Após sua morte tornou-se um falangeiro do Reino de Aruanda, servindo a Umbanda com amor e orgulho.

Caboclo do Sol.


Um Aborígene Australiano na Terra da Umbanda!

Essa é a história do Caboclo do Sol desta seara. Esse aborígene viveu entre 1780 e 1850, num dos desertos centrais da Austrália - o deserto de Gibson. Seu clã adorava o Sol e a Lua e demais símbolos da natureza. Comunicavam-se pela arte, pela música e eram exímios escultores. Tocavam instrumentos representativos da Terra, como o didgeridu, que significa: a Grande Mãe Serpente.
Os aborígenes australianos foram perseguidos pela Colonização Inglesa e quase dizimados. Milhares deles foram mortos em confronto. Como eram pacíficos, morriam sem a oportunidade de se defender. Usavam o bumerangue e a lança em caçadas e eram exímios rastreadores. Podiam andar dias no deserto sem sentir cansaço, fome ou sede. Entendiam os sinais da natureza e se comunicavam entre si por assovios e sons diversos emitidos pela boca.
Pela ligação que existe entre os aborígenes australianos e os negros africanos, através dos antepassados da Guiné, esses nobres espíritos guardiões da natureza foram escalados a trabalhar na Umbanda Universal pela implantação da Lei da Caridade, da Paz e do Amor.
Esse Caboclo trabalha em diversas Linhas, mas sua atuação maior é junto a Oxumaré, na Linha das Águas e Ogun Rompe Mato, na Linha de Ogun. Ele também pode atuar na Linha de Xangô das Pedreiras e de Yansã do Fogo. Portanto, o Caboclo do Sol possui um campo de ação bastante amplo e sua função é a de direcionar, apaziguar e transmutar energias. Quando ele "desce" em um terreiro gosta de dançar a "dança da cobra" ou de se posicionar em uma só perna. Seu símbolo no ponto é uma espiral (como no desenho abaixo).

     

Caboclo da Lua


Um viajante da noite!

O Caboclo da Lua desta seara narrou-nos a seguinte história:
Ele recebeu esse nome por sua facilidade em se orientar durante a noite. Gostava de apreciar a lua em suas diversas fases e ficava horas observando o anoitecer. Comunicava-se facilmente com os animais e tinha o dom da cura. Ele nasceu na América Central no ano de 1567, onde hoje se localiza o México. Sua tribo não resistiu muito tempo aos europeus. Os poucos sobreviventes espalharam-se pelas planícies da região do Novo México. Para auxiliar os sobreviventes a se adaptarem a nova vida, o Caboclo da Lua curava os feridos, apaziguava os ânimos e ensinava aos nativos a leitura dos céus e das estrelas.
O Caboclo da Lua viveu seus últimos anos de vida peregrinando com sua tribo pelas novas terras, tentando escapar da conquista do homem branco. Seu amor pela natureza e pelos animais lhe ajudou a se manter firme na luta. Quando por fim terminou sua jornada espiritual naquela terra, renasceu entre os Apyaká na beira dos rios Arinos e Juruena. Teve uma vida plena, em contato direto com a natureza exuberante da floresta Amazônica. Nessas vidas como índio, o Caboclo da Lua aprendeu o amor a Mãe Terra e o respeito aos irmãos de raça. Hoje trabalha na missão umbandista espalhando o conhecimento ancestral da cura, do contato com a natureza e do respeito aos seres vivos.

Caboclo Gira Mundo


Aquele que trabalha com a Roda da Cura!

O Caboclo Gira Mundo dessa Seara, não é um Cacique ou um Pajé; ele é apenas um índio norte-americano, que nasceu na região de Seattle e pertenceu à Tribo dos Suquamish, onde hoje é o estado de Washington. Ele nasceu e viveu durante o século XVIII (da Colonização Inglesa) e desde cedo convivia com os costumes do Xamã da Tribo, aprendendo tudo sobre os Espíritos da Floresta, sobre a Grande Roda da Vida e sobre a Cura dos Ancestrais.
Durante os processos de desenvolvimento, onde alguém era escolhido pela tribo, o Xamã Pasha Waka solicitava sua ajuda e pedia que ele dançasse ao redor da Roda Xamânica para atrair os bons ancestrais daquela pessoa. Ele sempre iniciava pelo pedra que representava o nascimento da pessoa e o contato com seu Totem Pessoal. Assim, ele sabia e sentia como funcionava a Grande Roda da Cura Xamânica.
Com a idade de 10 anos Pasha Waka lhe deu o nome de Caboclo Gira Mundo (Wanagi Kanglesha Aklan), pois ele sabia "girar a Roda da Vida" de cada índio. Quando sua tribo reunia-se em torno da fogueira, ele celebrava dançando para cada um dos presentes na cerimônia. E isso muito agradava ao chefe Wanblee Gleshka (Águia Pintada).
Quando o homem branco chegou em seu território e as disputas iniciaram, Wanagi ficou triste porque percebeu que sua cultura se perderia... Então, ele pensou em como preservaria todo o costume aprendido com seu povo e pediu a Topa Tate (as quatro direções) que lhe guiasse os passos para honrar o conhecimento de seu povo.
Nessa época iniciou o período mais negro da história Norte-americana: o genocídio de inúmeras tribos e o massacre de muitos índios. O território apache foi invadido. Os índios Sioux foram assassinados. Seattle deixava de ser uma aldeia pacífica e cheia de alegrias. Muitos de sua raça pereceram, enquanto a guerra espalhou-se em solo americano. A principal função da colonização era a obtenção do controle da terra e de suas riquezas.
Wanagi viu a chacina de sua gente e chorou lágrimas de sangue. Ele foi capturado e obrigado a trabalhar em um circo com outras raças. Sua função era ser um atirador de facas, enquanto uma roda girava, com uma moça presa à ela. Os indígenas que restaram foram obrigados a se esconder em territórios áridos, inférteis e isolados.
Haviam mais de 25 milhões de índios norte-americanos e 2 mil idiomas diferentes. Mas, ao final das guerras indígenas, restaram apenas 10% do total (mais ou menos 2 milhões de índios). O genocídio dos nativos americanos foi claramente controlado e impulsionado pelo governo e seus aliados, que visavam apenas lucros e progresso financeiro com o fim da raça indígena.
"Gira Mundo" (Wanagi) ficou amortecido no circo por dois anos, sem perspectiva de luta ou vida. Mas, um dia reencontrou outros de sua raça e com eles empreenderam uma fuga. Eles deslocaram-se em direção ao Alaska, pois a região ainda estava preservada dos homens brancos, devido a distância e às intempéries do tempo.
No solo da Última Fronteira (como era conhecida a região), por ser uma península gelada e retirada, Wanagi conseguiu reconstruir um pouco a sua vida. Praticou os ensinamentos que recebeu de Pasha Waka (o Xamã) e aplicou-os para curar seu povo. Viveu no dia-a-dia a sabedoria do Chefe Wanblee Gleshka e tornou-se um líder para o povo.
Assim, eles esconderam-se por um tempo do resto da civilização e do mundo europeu. Quando a idade avançou para "Gira Mundo", a Rússia estava negociando o território peninsular com os Estados Unidos. Gira Mundo - Wanagi descansou sua Roda Xamânica do tempo, exalou seu último suspiro e deixou que seus herdeiros contassem sua história.

Os Caboclos de Oxalá e os Caboclos Mistos


Antes de escrever sobre os Caboclos de Oxalá, inicio essa postagem citando um trecho extraído do livro "Magia dos Orixás" - de Diamantino Trindade - para explicar que todo caboclo que atua na vibração de Oxalá, atua atambém em todas as demais linhas, pois a Linha de Oxalá abrange todas as linhas.
"OS ORIXÁS E AS SETE LINHAS DA UMBANDA: De todos os assuntos discutidos na Umbanda, certamente o que mais provoca controvérsias é oriundo das inúmeras linhas ou mais propriamente “pseudolinhas” de Umbanda, que via de regra, encontramos nos mais diferentes terreiros. Uma pesquisa realizada junto a um grupo de 48 alunos do curso de Formação de Sacerdotes de Umbanda da Federação Umbandista do Grande ABC revelou que, no cômputo geral, esses alunos conheciam 33 linhas de Umbanda. Erroneamente, costuma-se chamar linha de Umbanda, toda e qualquer manifestação espiritual. Determinadas pessoas costumam enquadrar espíritos que em vida pertenceram a determinadas categorias profissionais, como pertencentes a uma certa linha de Umbanda. Um exemplo disso é a “linha” de baianos. Existem ainda os que consideram as mil e uma subdivisões existentes numa mesma linha, como sendo também uma linha de Umbanda. Como exemplo, podemos citar a linha de Oxosse e as “pseudolinhas” correspondentes tais como: linha das Matas, linha de Pena Branca, linha de Jurema etc.
Na realidade, as linhas de Umbanda são apenas sete e absolutamente não comportam um universo quadrado com subdivisões exatas de sete em sete como pretendem alguns autores, que esquecendo ou desconhecendo o papel importante desempenhado por Zélio de Morais e pelo seu Guia Espiritual Caboclo das Sete Encruzilhadas, perdem-se em meio a um mundo de desinformações, quando a verdade está clara como água, bastando para tanto um estudo de mente aberta sobre as raízes da Umbanda, como culto de terreiro e veremos então que existe uma lógica impressionante, um crescendo notável que, envolvendo os diferentes aspectos da existência humana, vai do nascimento à morte, do romper da aurora ao pôr-do-sol.
A palavra Orixá significa literalmente “Senhor da Cabeça” e como tal o Santo principal a que está ligado espiritualmente qualquer pessoa humana. “O Santo de Cabeça” que é uma expressão bastante significativa e de acepção universal, sendo bastante comum o seu uso. Em relação ao Candomblé, há uma nítida diferenciação no que se refere aos Orixás. O umbandista parte do princípio de que todo o Orixá é Santo, mas nem todo Santo é Orixá, em virtude do plano de hierarquia, de acordo com as missões que desempenham ou desempenhavam na Terra. O Orixá, em função da sua vibração na sua falange da sua linha influi diretamente, nos mensageiros espirituais que são os Guias, os quais incorporam o médium para os trabalhos a serem realizados. Na dualidade Santo-Orixá, há os que viveram e os que nunca tiveram passagens terrenas, da mesma maneira que os Anjos e Arcanjos, todos centralizando focos de magia astral que se procura fixar em símbolos, cores e características litúrgicas como forma de entrosamento entre o crente e o plano divino, Dessa maneira, permite ao homem que, pelo uso instrumental ou material dos objetos rituais, possa fixar o pensamento para sintonizar na intimidade do ser a convicção da sua fé, e ingressar na iniciação religiosa, galgando o desenvolvimento espiritual.
O Orixá age no campo astral, imperceptível ao nosso conhecimento para ser cultuado de maneira a haver entendimento pela maioria. Têm sido representados de forma perceptível aos nossos sentidos, simbolicamente, ou pertencendo a linhas divisórias de vibrações, como se dominassem determinados campos humanos ou naturalistas. Os Orixás, na Umbanda entrelaçam-se nas linhas de cultuação, que apresentam muita controvérsia em suas denominações e divisões abrangendo reinos e falanges, de tal modo que não há uma unidade de entendimento, sendo, geralmente, distribuídos em sete linhas. 
(...)Assim foram surgindo outras tendas. A Tenda do Senhor do Bonfim, a Tenda de Umbanda Santa Bárbara, a Tenda de Umbanda Cosme e Damião, a Tenda de Umbanda Nossa Senhora da Conceição, a Tenda de Umbanda Nossa Senhora da Glória, inaugurada juntamente com a Tenda Nossa Senhora dos Navegantes, pois dois de seus médiuns já preparados eram filhos de Iemanjá, Orixá cujo culto até então era praticamente desconhecido. A expressão era utilizada exclusivamente pelos negros e nem sempre da mesma forma. A seguir, veio a Tenda de Umbanda São Sebastião, a Tenda de Umbanda São Jorge, seguida da Tenda de Umbanda São Jerônimo. Completando, surgiram a Tenda de Umbanda Sant’Ana e finalmente a Tenda de Umbanda São Lázaro. Uma outra tenda nascida da Tenda Nossa Senhora da Piedade ganhou projeção no Rio de Janeiro. Essa tenda recebeu o nome de Tenda Mirim, fundada em 13 de outubro de 1924.
Inquirido, por Ronaldo Linares, a respeito de todas as Tendas levarem o nome de Santos Católicos (na época o catolicismo era a religião dominante), Zélio de Morais justificou dizendo que tinha formação católica e, que quando iniciara o culto umbandista, o fizera a mando do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Desde o seu início, a Umbanda nasceu caritativa. O Sr. Zélio de Morais proibia que se executassem cobranças de trabalhos espirituais. Os membros do corpo mediúnico e os adeptos se cotizavam para fazer frente às despesas havidas e, de vez em quando, alguém melhor situado na vida fazia alguma coisa mais concreta, materialmente, pela tenda, fazendo doações em dinheiro, mas cobrar por trabalhos não era permitido. Assim, quando do nascimento das primeiras tendas acima mencionadas e a delegação dos poderes para gerir essas mesmas tendas, alguns dos novos filhos de fé, a exemplo do que ocorre em outras formas de culto, desvirtuaram, em parte, os ensinamentos do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Zélio de Morais esclareceu que estas tendas deveriam nascer as sete linhas da Umbanda e que seriam representadas por sete cores.
A primeira linha é caracterizada pela cor amarelo ouro bem clarinho e que seria a cor da Tenda de Santa Bárbara. O Orixá correspondente é IANSÃ que se caracteriza por ser um Orixá guerreiro e que domina também as águas como todas as Santas Senhoras, mas exerce, além disso, seu domínio sobre os raios, as chuvas e os ventos. Iansã simboliza a forma mágica capaz de afastar males e influência negativas, amparando as súplicas dos que recorrem ao seu poder vibratório, como o poder de descarregar cargas nocivas de enfeitiçamento.
A segunda linha é caracterizada pela cor rosa, correspondente a Tenda Cosme e Damião. É a linha dos espíritos das crianças, espíritos puros em corpos físicos recém libertos do útero materno, espíritos que não tiveram oportunidade de ampla vivência em corpos físicos, considerados ainda espíritos aprendizes. O Orixá correspondente é IBEJI. A universalidade dessa cultuação religiosa abrange povos que viveram em épocas diferentes e distintas, bem como locais distanciados na face da Terra, em correspondência com áreas espirituais, que envolvem todas as falanges, e foram simbolizadas nos cultos dos gêmeos. Os cultos africanos, introduzidos pelos nagôs e bantos trouxeram uma noção de um transe infantil, denominado “ERE” e uma concepção singular do Orixá Ibeji, representado por gêmeos sob várias denominações (Alabá, Idolu, Cosme e Damião, Crispim, etc.). Esse transe era muito considerado pela limpeza fluídica que fazia nos filhos de fé, ao final das práticas de terreiro.
A terceira linha é caracterizada pela cor azul. Esta é a única linha que possui mais de uma representação, com vários Santos Católicos sincretizados com ela, a saber: Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora dos Navegantes e Nossa Senhora da Guia. O Orixá correspondente é IEMANJÁ. Esta linha é também a primeira a ter um nome negro e que significa “Mãe Peixe”. A cor azul de Iemanjá lembra o período em que a vida é gerada no útero materno, é o próprio e complexo ato da fecundação, seguida do período de desenvolvimento do feto no meio aquoso (salino). Daí ser confundido ou bipartido, dando-se a Nossa Senhora da Conceição, a mãe de Jesus, o sincretismo com o Orixá da água doce ou potável, dos rios e cachoeiras, o Orixá OXUM. Iemanjá é o Orixá que possui maior cultuação e os milhões de adeptos a homenageiam coletivamente ao findar e iniciar de cada ano fazendo a entrega das oferendas apropriadas. Oxum é o Orixá que domina a água doce e o arco-íris e as suas ligações. Porém exerce o domínio mais acentuado nas cachoeiras, num sentindo geral de purificação.
A quarta linha é caracterizada pela cor verde representativo da Tenda São Sebastião. Representa o elemento verde da natureza, as matas e o povo que nela habita, os chamados índios e seus mestiços, os Caboclos. O Orixá correspondente é OXOSSE. O culto a Oxosse envolve uma vasta falange de caboclos, que representam o elemento jovem, o espírito idealista, sendo honestos e desinteressados. Os Guias-Chefes recebem várias denominações. Na Umbanda, esse Orixá recebeu ou absorveu a cultuação dedicada a Ossanha, bem como as suas prerrogativas no campo das ervas medicinais, sendo de muita expressão nessa magia das plantas. Oxosse, através dos fluídos das ervas, prepara e limpa com os seus banhos todas as vibrações inferiores, harmonizando as vibrações com perfumes e aromas florais.
A quinta linha é caracterizada pela cor vermelho, representando a Tenda São Jorge. O Orixá correspondente é OGUM; patrono da força aplicada à manutenção da ordem, é constituída pelos espíritos de militares. Ogum é um Orixá muito considerado na Umbanda. Apresentando várias entidades que se manifestam nos terreiros de Umbanda sob os mais variados nomes, entre eles: Ogum Beira-Mar, Ogum Rompe Mato, Ogum Nagô, Ogum Sete Ondas, Ogum Iara, etc. Ogum simboliza o vencedor de demandas com vibrações positivas, escolhido para combater as forças do mal.
A sexta linha é caracterizada pela cor marrom, representando a Tenda São Jerônimo. Esta linha é constituída pela força. Seu Orixá correspondente é XANGÔ e significa a força que resolve as pendências, dando a quem é devido o que lhe é de direito. É sempre representado como o homem maduro. A invocação de Xangô envolve desde os Doze Apóstolos a todos os Santos Velhos. No apelo comum a Xangô afluem as forças poderosas que reluzem qual relâmpago na continuidade do trovão, cujo domínio está sob seu poder e tem no sílex ou metódico o simbolismo imutável, inflexível da justiça sob cuja égide é invocado.
A sétima linha é caracterizada pela cor violeta e que corresponde a Tenda de Sant’Ana que representa o elemento velho e servil. É o período em que consciente de toda existência, mas já ocupando um corpo pronto, o indivíduo espera a libertação que virá com a morte. O Orixá correspondente é NANÃ. Este Orixá é considerado como a Senhora Suprema da Umbanda, também invocada como Nanã Buruque; sendo Nanã carinhosamente chamada pelos adeptos de Vovó da Umbanda.
Finalmente temos a cor negra, correspondente a Tenda de São Lázaro. É a ausência da cor e da luz da vida, Zélio de Morais explica que as cores branco e preto não fazem parte das sete linhas, pois o branco, que é a presença da luz, existe em todas elas e o negro, que é justamente a ausência da luz, esta justamente na falta delas. O Santo Católico São Lázaro é sincretizado com o Orixá OBALUAÊ ou OMULU. Esse Orixá chefia a falange dos mortos, mas não no sentido distante, de muito tempo, por ser uma divindade ligada à Terra, que procede à purificação material dos corpos, através de suas vibrações especiais como surdas e melancólicas que ajudam a despir o envoltório grosseiro do físico sujeito às vicissitudes e à morte. Contribui, assim para o desenvolvimento do espírito na sua libertação do corpo carnal.
O Orixá maior da Umbanda é o OXALÁ. O respeito profundo e a forma superlativa do nome – OXALÁ – já ressaltam em si mesmo ser mais que Orixá, pois é o Supremo, o Chefe para o qual convergem todas as linhas, assim perfeitamente identificado na invocação com Jesus Cristo. Nas contas brancas dedicadas a Oxalá, sobressai o sentido de pureza, sem mácula, nessa cor que é a síntese de todas as cores irmanadas, ressaltando nesse simbolismo convergente a Força Máxima da Umbanda, que constitui a Linha Suprema, onde se abrigam todas as linhas e falanges, pois o seu poder é bem maior."
Na Linha de Oxalá a atuação de determinados caboclos é mais sutil, pois representa o Amor Incondicional. Assim, esses caboclos apresentam-se sempre pacificamente e comedidamente. O primeiro Caboclo a se apresentar na Linha de Oxalá foi o precursor da Umbanda Sagrada: Caboclo das Sete Encruzilhadas. Hoje, no comando da Linha de Oxalá, Urubatão da Guia assume a chefia, mas, temos outros caboclos conhecidos que atuam na Linha Branca de Oxalá: Caboclo Tupã, Caboclo Estrela Guia, Caboclo Seta Branca de Aruanda, Caboclo Luz da Manhã, Caboclo Sol Nascente, Caboclo Luz Dourada, Caboclo da Chama Trina, Caboclo do Sagrado Coração, Caboclo da Cruz Sagrada, Caboclo do Sol e da Lua, Caboclo Pemba Branca, Caboclo Luz Branca, entre outros. Temos também caboclos que atuam em várias linhas e podem ser chamados de Caboclos de Linhas Mistas, pois podem atuar em qualquer vibração, como os caboclos: Tupinambá, Ubirajara, Guarani, Guaraci, Tupi, Aimoré, Seta Branca, Apoema, Ubiratan, entre outros. Na verdade, todas as entidades trabalham para Oxalá, mas aquelas que atuam na vibração de Oxalá, são responsáveis por manusear a energia da purificação e da pacificação. São eles que agem nos comandos superiores do planeta, para impedir as guerras, mantendo a paz e a ordem.