Jovem caçador, mas com o semblante duro como uma raiz profunda, Flecha Dourada pertence ao clã da Serpente, que são espíritos preparados para a transmutação de energia, para a transformação do mal em bem. Ele é de pouca conversa e de poucos amigos. Seu brado assemelha-se a um piado que ecoa no meio da mata e assusta aquele que passa.
Flecha Dourada se esconde nas folhagens, atrás dos troncos, à espreita da caça, como uma cobra que arma seu bote com paciência e astúcia. Porém, a sua cobra não é como a Coral, que é pequena e de cor viva: é a surucucu dourada, também conhecida como jararacuçu (a jararaca gigante) ou urutu-dourado, uma espécie rara e muito venenosa, temida por aquele que adentra a floresta ou percorre o cerrado. A pelagem de seu animal brilha ao sol e ofusca a visão da presa, que cai fascinada pela sua beleza.
Mas poucos sabem que o Caboclo Flecha Dourada é doce, de um coração bondoso e cheio de amor. Por trás de seu semblante endurecido, esconde-se um menino que percorreu um caminho de duras pedras. Quando criança, ele viu a morte da mãe, pelas mãos violentas dos inimigos, e desde então embrenhou-se na mata, fechando-se em seu silêncio e em sua tristeza. Não convivia mais com a tribo. Esqueceu-se dos parentes que também sofriam.
Um dia, porém, ao meio dia, no fundo da mata, teve a visão de uma linda mulher que trazia algo muito brilhante em suas mãos. Ele foi se aproximando, com a vista ofuscada pelo brilho, e a mulher entregou-lhe uma flecha tão dourada quanto o sol. Ele ajoelhou-se e agradeceu, antes que a imagem desaparecesse. O menino beijou a flecha de luz deixando uma lágrima cair de emoção por ter visto diante de si sua mãe.
Flecha Dourada voltou à tribo e ao clã da Serpente e tornou-se um valente caçador. Pelo sofrimento que conheceu, ele protege as famílias, os desamparados e aqueles que sofrem. Okê caboclo!
Fonte: fiodecantos.wordpress.com
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